São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Gates levanta polêmica entre empresários

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

A imprensa tem a obrigação de manter a objetividade jornalística, certo? Uma revista do nível da ``Time" jamais partiria para o ataque contra um concorrente do grupo Time Warner, correto?
Não deixou de causar curiosidade, no entanto, a capa que a revista dedicou dia desses a Bill Gates, o dono da Microsoft.
Tem gente que acha que foi o primeiro salvo em público da guerra de cotovelos nos bastidores da indústria da comunicação. No popular, uma cacetada cibernética no xerife de hoje das chamadas supervias da informação.
``Master of the Universe", o título que acompanha a foto de Gates na capa, traz à mente o personagem sem escrúpulos do livro ``A Fogueira das Vaidades". ``Meu, tudo meu", o título da reportagem nas páginas internas, vem acompanhado por fotos que mostram Gates como se quisesse agarrar o mundo.
O texto admite que para transformar a Microsoft na empresa de informática mais poderosa do mundo, Gates usou trabalho e inteligência, mas também crueldade contra os competidores. Fazendo trocadilho com o nome de um livro que descreve o estilo sanguinário dos investidores dos anos 80, a ``Time" traz uma relação de empresários e autoridades que querem a cabeça do Bill, os ``Barnabarians After Gates".
A reportagem reúne num quadro o impressionante número de parcerias que a Microsoft tem feito para avançar sobre outras áreas do ciberespaço. Aliás, não passa um dia sem que a empresa anuncie interesse em uma nova fronteira, levando os adversários de Gates a acusá-lo de querer avançar a cerca, se preciso com força de capatazes.
A Microsoft não é a maior empresa do ramo, mas é de longe a mais lucrativa. A sacada de Gates foi ter investido em desenvolver os programas que hoje em dia controlam 80% dos computadores do mundo, ditando o padrão para a indústria do software.
Até aí tudo bem. A coisa começa a pegar no momento em que o empresário revela um apetite insaciável pelo negócio dos vizinhos. Senão vejamos: algumas das maiores companhias telefônicas do mundo vão testar o sistema de TV interativa desenvolvido pela Microsoft, um filão em que também estão de olho a própria Time Warner e a Capital Cities (dona da rede americana ABC).
Chega ao mercado, ainda neste ano a Microsoft Network, uma rede comercial de computadores que enfrentará a dura concorrência dos maiores bancos e empresas de cartão de crédito do país. Gates quer oferecer ao público a possibilidade de controle e pagamento eletrônico de contas.
A Microsoft se juntou à rede NBC para produzir CD interativo sobre programas da emissora e se associou ao grupo de Steven Spielberg para criar jogos.
Pisando em tantos pés ao mesmo tempo, não é de estranhar que Gates tenha feito muitos inimigos. O governo investiga a Microsoft por possíveis práticas monopolistas e já impediu a empresa de engolir uma concorrente, a Intuit, que inventou um dos programas mais populares de contabilidade, o ``Quicken".

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