São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Sérvios soltam 130; brasileiro ainda é refém

ANDRÉ FONTENELLE
ENVIADO ESPECIAL A BELGRADO

O brasileiro Harley Alves é um dos 14 militares da ONU que continuam reféns dos sérvios da Bósnia, segundo o encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Belgrado, Samuel Bueno dos Santos.
Ontem os sérvios libertaram 130 dos 144 reféns da ONU que mantinham. Continuam em cativeiro 14, por ``razões técnicas", segundo o líder dos rebeldes, Radovan Karadzic. Ele prometeu soltá-los ``até o final da semana".
Os 14 teriam sido mantidos como reféns para manter o poder de barganha dos sérvios da Bósnia, que querem a libertação de quatro sérvios presos em Sarajevo.
Além de Alves, os outros seriam um paquistanês, um argelino, um belga, um finlandês, um queniano, um ganense, um canadense, um jordaniano, dois tchecos e três holandeses. São, na maioria, observadores militares.
Karadzic anunciou a libertação ``de todos os reféns" numa entrevista coletiva às 11h (6h em Brasília), ao lado de Jovica Stanisic, chefe da polícia secreta do país que restou da antiga Iugoslávia (Sérvia e Montenegro).
``A crise está encerrada. Esperamos que ela nunca mais se repita e que a comunidade internacional seja imparcial", disse Karadzic.
No entanto, o enviado especial da ONU para a ex-Iugoslávia, Yasushi Akashi, disse que não ficará satisfeito enquanto ``o último refém não for solto". Akashi negou que a ONU tenha feito concessões em troca da libertação.
O primeiro grupo libertado ontem deixou Pale às 14h45 (9h45 em Brasília), num ônibus com destino a Zvornik, na fronteira da Bósnia com a Sérvia. São 14 franceses, 6 britânicos, 2 poloneses, 1 sueco, 1 russo, 1 tcheco e 1 norueguês, segundo Stanisic.
Harley Alves está detido há 19 dias. Ele foi visitado pela Cruz Vermelha, nos arredores de Pale, na quinta e na sexta-feira passadas.
Na primeira visita, ele pôde enviar uma mensagem à família e se queixou da falta de material para higiene. Na segunda, seu grupo recebeu sabonete, lâminas de barbear, roupas de baixo e agasalhos.
A Cruz Vermelha anunciou que continua autorizada ``a visitar o pessoal da ONU detido, por razões técnicas ou não".
Karadzic confirmou ter encontrado o presidente sérvio, Slobodan Milosevic, durante as negociações. Milosevic sai vitorioso da crise. Intermediou a libertação, mas quer em troca o fim do embargo imposto pela ONU em 92.

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