São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 1995
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Efeito Kinder Ovo

As importações brasileiras em maio, de US$ 4,8 bilhões, contra US$ 4,2 bilhões de exportações, resultaram num déficit de US$ 690 milhões. É o sétimo mês consecutivo de déficit comercial.
Ao lado dos carros, os combustíveis estão sendo apontados como responsáveis por mais esse déficit. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, revelou que foram gastos US$ 532 milhões com a importação de combustíveis e lubrificantes, ou 51,3% acima das compras de abril.
São números eloquentes, são taxas preocupantes. Mas o esforço do governo para evidenciar a origem localizada, setorial ou emergencial do déficit comercial contrasta com evidências inquietantes.
Primeiro, a própria persistência do déficit. Sete meses depois da primeira explicação localizada, depois de tantos meses de medidas concretas para reverter o quadro, o fato nu e cru é que ainda há um déficit significativo.
Além da persistência, parece evidente que importações de quase US$ 5 bilhões ao mês não se explicam apenas por carros, combustíveis ou outro fator isolado.
Parece provável que a economia brasileira esteja passando por um processo amplo e profundo de aumento das importações, com motivos fundamentais.
Os motivos são o câmbio muito favorável às compras externas e níveis de consumo que, no início do Plano Real, aparentemente superaram a oferta nacional.
Tais desajustes o governo procura corrigir gradualmente, mas na prática as importações já estão em todos os lugares. Importa-se de tudo um pouco, como revelam as gôndolas de supermercados, bancas e bares em todo o país.
É o que se poderia batizar de ``efeito Kinder Ovo": o ovinho de chocolate italiano recheado de brinquedos disponível nos mais remotos pontos de venda. O importado entrou no cotidiano brasileiro com intensidade sem precedentes.
Há uma gama ampla e variada de importados, com preços para todos os bolsos, ocupando espaços em toda a estrutura produtiva e nas redes de atacado e varejo no país.
O combustível ou os carros podem explicar muito neste ou naquele mês. Mas a duração e a magnitude dos déficits sugerem que há mais problemas no ar do que sugere a nossa vã economia.

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