São Paulo, sábado, 17 de junho de 1995
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Bósnios avançam ao redor de Sarajevo

ANDRÉ FONTENELLE
ENVIADO ESPECIAL A BELGRADO

O Exército da Bósnia ganhou terreno ontem em combates contra os rebeldes, pelo controle de entradas estratégicas entre Pale e Sarajevo.
Os bósnios tentam acabar com o cerco da sua capital, Sarajevo, sitiada há mais de três anos pelos sérvios da Bósnia.
Tropas da Bósnia teriam conseguido cortar a comunicação entre Pale, "capital" dos sérvios, e a base de Lukavica, ao sul de Sarajevo. Também ameaçam isolar Ilidza, outra localidade nas mãos dos sérvios da Bósnia.
Pelo menos 20 pessoas morreram nos combates de ontem. O principal hospital de Sarajevo foi atingido por um obus sérvio, que matou dois pacientes e deixou três feridos. Outro míssil sérvio danificou um edifício próximo ao palácio presidencial da capital bósnia, sem fazer vítimas.
Cinco soldados franceses das forças de paz da ONU foram feridos. Os "capacetes azuis" foram pegos no fogo cruzado: 13 soldados russos ficaram bloqueados a maior parte do dia em um posto de observação.
Os separatistas sérvios afirmam que mantiveram o controle das estradas atacadas pelos bósnios. O "governo" não-reconhecido de Pale pediu aos dirigentes do G-7, reunidos em Halifax (Canadá), que condenem a agressão do governo bósnio.
O governo bósnio impôs como condição para um cessar-fogo que seja levantado o cerco a Sarajevo e que as Nações Unidas façam um controle mais estrito das armas pesadas.
"Nossas ações são defensivas. Não podemos ficar de braços cruzados, enquanto a cidade é estrangulada um pouco mais a cada dia", disse em Nova York o ministro bósnio das Relações Exteriores, Mohamed Sacirbey.
Sacirbey falou, em inglês, durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU que decidiu a criação da força de reação rápida (leia texto abaixo). Antes de ser chanceler, ele foi embaixador da Bósnia na ONU.
Nas ações de ontem, os dois lados utilizaram armas tomadas de depósitos das forças de paz da ONU. Soldados bósnios invadiram um depósito de armas das Nações Unidas no centro de Sarajevo e levaram cerca de 70% do material, segundo a ONU.
A zona de exclusão de armas pesadas decretada pela ONU em torno de Sarajevo foi totalmente desrespeitada.
"Acho que vamos ver pelo menos alguns dias de luta", avaliou o porta-voz das forças de paz da ONU em Sarajevo, tenente-coronel Gary Coward.
O enviado especial da ONU à ex-Iugoslávia, Yasushi Akashi, pediu em Zagreb (Croácia) um cessar-fogo em torno de Sarajevo, para "aliviar o sofrimento".

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