São Paulo, sábado, 17 de junho de 1995
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Jovens e velhos

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Os indivíduos mudam, as idéias ficam. A frase podia estar num dos livros de Fernando Henrique Cardoso ou num texto não publicado do Conselheiro Acácio. É uma dessas verdades óbvias que a cada dia pode ser demonstrada.
Tivemos agora o congresso da UNE e, mais uma vez, com a irresponsabilidade das crianças que descobrem a nudez do rei, os estudantes deram seu recado.
No Brasil e praticamente em todo mundo as causas que os estudantes defendem estão na cara da história. Para ficarmos em casa, e nos anos mais recentes, eles lutaram para que Vargas entrasse na guerra do lado certo (houve momento em que o Brasil parecia aderir ao nazi-fascismo). Lutaram pelo monopólio do petróleo, pelas diretas, pela deposição de Collor.
Evidente que o tempo passa. E passa mudando os indivíduos. O estudante de hoje pode ser o governante de amanhã: cresceu, casou, criou compromissos, considera seu próprio passado uma estudantada, de quem não sabia como era a vida e ignorava o mundo.
O exemplo mais notório parece ser o José Serra. Devemos desculpá-lo. Como estudante tinha seus ideais, achava que sabia muito, mas nunca tinha visto uma vaca -evento histórico que só aconteceu agora, em sua fase adulta e ministerial. É possível que ainda tome conhecimento de outras coisas elementares.
Outro exemplo, além do próprio FHC, é o do ministro Sérgio Mota, que foi a Paris negociar investimentos na telecomunicação com a estatal francesa. Um afobado poderia concluir que o problema não é a estatal e sim aqueles que nomeiam e administram a estatal. Mas não deve ser nada disso. Serra, Fernando Henrique e Sérgio Mota cresceram, criaram família, são homens responsáveis e devem saber o que estão pensando e fazendo.
O diabo é que os estudantes que nada sabem continuam lutando por velhas idéias que em absoluto são idéias velhas. Até o Conselheiro Acácio concordaria com isso.
PS - O cronista agradece aos leitores que escreveram, telegrafaram e telefonaram por causa de Mila. Francamente, não esperava e talvez não mereça as palavras de carinho que me comoveram.

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