São Paulo, sábado, 17 de junho de 1995
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Cultura e conduta

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A cultura hodierna apresenta desafios sempre maiores à nossa conduta. Não é verdade, porém, que tudo vai mal, enquanto houver no coração humano sede de valores espirituais e testemunho sincero de que é possível, com a graça de Deus, agir retamente e fazer o bem.
No entanto, a sociedade contemporânea tem contribuído para exacerbar a acumulação doentia de bens materiais e a deterioração moral, alterando assim profundamente a conduta do nosso povo. Há uma absolutização do dinheiro, a busca do lucro a todo custo e a aceitação tácita das normas do livre mercado.
A ganância se manifesta, também, na corrupção que atinge a vida pública. O pior é que o horizonte de anseios da juventude vai se alterando pela atração do consumo materialista. Daí seguem-se consequências graves. Aumenta o egoísmo. Diminui a sensibilidade diante da pobreza e do sofrimento alheio, acarretando o desrespeito à dignidade da pessoa e abrindo as portas a injustiças sociais sempre maiores.
A sede descontrolada de bens materiais acaba desvinculando o instinto de toda norma objetiva e reduz a sexualidade a prazeres fugazes ou a mera mercadoria, com a cumplicidade dos meios de comunicação social.
Ao mesmo tempo, surge a tentativa de autojustificação das próprias atitudes, afirmando a liberdade individual como norma única de agir. Seguem-se a frustração profunda da pessoa e as fugas descabidas para a droga, a violência e a criminalidade. A decadência moral atingiu a vida conjugal e familiar, promovendo desmandos comportamentais, uniões livres e descomprometidas, rejeitando crianças e idosos.
É o momento de enfrentar os desafios de nosso tempo, reagindo contra tudo o que deteriora e frustra o anseio de verdadeira felicidade.
A mensagem de Jesus Cristo explicita os valores que realizam a pessoa e oferece horizontes insuspeitados de humanização do mundo e de comunhão com Deus e com os outros.
A primeira atitude do cristão é de colocar a realização das pessoas acima dos bens materiais. Há níveis nesse procedimento. A ação em bem dos necessitados começa pela luta contra a fome e a miséria, criando condições de vida digna, de educação e garantia de oportunidades de trabalho. O segundo passo compromete mais e inclui como valor cristão o desapego e uso moderado dos bens, reduzindo o consumo e optando por uma vida sóbria e simples conforme a primeira bem-aventurança do evangelho.
O terceiro passo consiste na solidariedade real com os mais pobres, partilhando com eles sofrimentos e esperanças como critério de verdadeira fraternidade. Quem pode permanecer no próprio bem-estar diante do irmão que padece?
O domínio do instinto e a superação do egoísmo são alcançados por aqueles que aprendem a amar de modo gratuito, a ``querer bem" a seus irmãos, a apreciar a beleza da doação, a alegria da gratidão, a experiência da partilha, a felicidade de ver os outros felizes. Nada disso acontece sem que Deus esteja presente em nosso coração, ainda que de modo velado e nem sempre suficientemente percebido.
A cultura que emerge do compromisso cristão é aberta à liberdade de quem aprende a se dar e à confiança de que Deus, criando-nos por amor, é o mais interessado em nossa felicidade.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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