São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Polícia investiga ligação entre rap e tráfico

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO<UN>

Cinco cantores de rap e dois empresários depuseram ontem no inquérito aberto pela DPCA (Divisão de Proteção à Criança e ao Adolescente) para apurar possíveis relações entre os bailes funk e o tráfico de drogas no Rio.
A polícia apreendeu uma fita com gravações nas quais os MCs (mestres de cerimônia), como são chamados os cantores de baile, elogiam os grupos de traficantes e falam sobre drogas, sequestros e confrontos com a polícia (veja trecho de música ao lado).
Há versos como “Hoje é uma felicidade a gente matar todos os que tentam invadir a favela do Arará”, ou “Comprei muita cocaína, sou traficante e assaltante que sequestra de montão.”
As músicas animam bailes realizados nos subúrbios e em bairros da zona sul do Rio, com público de até 3.000 pessoas, a maioria jovens de classe média baixa. É comum haver briga de galeras, apreensão de drogas e tiroteios durante as festas.
As duas duplas mais conhecidas de rappers têm gravações na fita apreendida pela polícia: Willie e Duda, que estouraram nas paradas com o “Rap do Borel” e Cidinho e Doca, que lançaram o “Rap da Felicidade”.
Na fita, eles cantam as mesmas músicas, com letras diferentes. Uma delas, o “Rap das armas do Borel”, cita todo o arsenal usado pelos traficantes. O “Rap da Nova Brasília”, afirma que a múisica vai “para a galera do CV”. CV é a sigla do Comando Vermelho, a organização criminosa que, segundo a polícia, comanda o tráfico do Rio.
O empresário dos cantores, Jorge Nogueira, o “Pigmeu”, disse ontem que as gravações são antigas e que, desde que começou a agenciar as duplas, há um ano, eles não cantaram mais os raps em apoio ao tráfico.
“Há três anos, todas as duplas cantavam essas músicas. Hoje, como eles fizeram sucesso, as gravações estão repercutindo”, afirmou.
Nogueira e seu sócio, Adriano de Morais, disseram que, quando alguém os procura para contratar shows de rap, não ficam sabendo de onde vem o dinheiro do cliente.
Afirmaram ainda que as duplas não estão mais se apresentando nos “bailes de comunidade” -que a polícia suspeita serem financiados pelos traficantes-, mas apenas em clubes e boates.

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