São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Mãe de gay e lésbica diz que filhos são maravilhosos

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Ter um filho gay, para muitos pais, pode ser motivo de profunda vergonha. Para a aposentada Cleonice Campos Silva de Figueiredo, que tem um filho gay e uma filha lésbica, isso é motivo de grande orgulho.
Cleonice foi uma das pessoas mais aplaudidas ontem de manhã, na cerimônia de abertura oficial da 17ª Conferência da Ilga (Associação Internacional de Lésbicas e Gays), no Rio Palace Hotel.
Diante de mais de 300 pessoas, sua filha, a militante Virgínia Figueiredo, do grupo gay Arco-Íris, foi ao microfone, apontou para Cleonice, que estava sentada na platéia, e disse que sem o apoio da mãe não teria tido coragem de se expor publicamente como lésbica. A platéia urrou de alegria.
``Minha filha é maravilhosa. Todo dia ela me presta uma homenagem", disse Cleonice à Folha.
Baiana, radicada no Rio, Cleonice tem 57 anos e é viúva há 15. Tem seis filhos. O filho mais novo, Wilson, também é gay. ``Eduquei meus filhos na base da verdade. Não os criei para mim, mas para o mundo. Eles não têm que gostar do sexo que eu gosto."
Virginia, 36, e Wilson, 33, moram com a mãe. ``A namoradinha dela vai lá em casa. Vamos ao cinema juntas. Só não vou em bar. O que é que eu vou fazer em bar de entendidos?", pergunta, rindo.
O maior problema de Cleonice são alguns parentes e vizinhos. ``As pessoas olham para mim como se minha casa estivesse cheia de marginais e pessoas promíscuas. Ser gay não é falha na educação, nem doença", diz.
Domingo, na praia de Copacabana, Cleonice vai carregar uma faixa na ``marcha pela cidadania", que marca o fim do encontro de gays e lésbicas. ``Espero que minha família me veja pela TV."
Ao lado dela estará o norte-americano Tim Wilson, diretor do grupo de Pais, Parentes e Amigos de Lésbicas e Gays, uma associação espalhada por 11 países.
Wilson está na conferência para falar da importância do apoio dos pais. ``Quando o pai se assume como pai de um gay é mais difícil haver preconceito contra o gay".
Cleonice notou que Virginia e Wilson eram diferentes ainda na infância. ``Tudo sempre foi trocado lá em casa", ri. ``Minha filha era apaixonada pela Rita Pavone (cantora italiana). Usava cabelo curto e botinhas iguais a ela. Depois, decidiu que queria ser pára-quedista. Já o Wilson, a avó dele gostava de vesti-lo com fitinha rosa no cabelo".
Virginia abriu o jogo aos 17 anos. ``Ela falou: `Mãe, quero te apresentar uma pessoa que estou apaixonadérrima'. Respondi: `Muito prazer. Você é linda'. Olhei para a minha filha e disse: `Parabéns. Espero que ela não te faça sofrer'. Foi assim".

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