São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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'O Baile' regride na história

INÁCIO ARAÚJO
DA REDAÇÃO

Em ``O Baile" (Globo, 0h25) há um princípio aceitável: um salão de dança dos anos 30, com fotos nas paredes com fotos que fixam os acontecimentos que ali se passaram.
Daí, Ettore Scola trata de fazer a ligação entre a história da França entre os anos 30 e os 80 e a história dos personagens, das pessoas que animaram aquele salão.
A escolha do salão como local privilegiado, porém, esconde uma segunda intenção: mostrar essa história sem usar uma única palavra. Que vantagem se pode tirar desse ``parti pris" regressivo?
Scola e seu filme transitam do Front Populaire (a frente de esquerda que ganhou a eleição de 1936) ao início da Segunda Guerra, daí à Ocupação do país pela Alemanha, à Liberação, ao avanço da influência norte-americana nos anos 50, até chegar à revolta estudantil de Maio de 68.
Scola demonstra que é possível fazer um filme sem palavras. Mas, como antes mesmo dessa história começar, em 1927, o cinema ganhou o recurso da fala, essa demonstração soa um tanto inconsequente.
O virtuosismo da premissa impõe-se ao conjunto e, no fim, qualquer espectador termina convencido de que, para fazer um filme mudo, é preciso lançar mão de recursos narrativos imensos, quando tudo se poderia resumir a uma simples réplica.
A descoberta do cinema sonoro é simples: uma palavra pode valer mais do que mil imagens. Na época, muita tinta rolou sobre isso, e não faltou quem achasse que as palavras entravam no cinema para conspurcar a arte das imagens. Mas quem, hoje, a sério, sustentaria isso?
(IA)

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