São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Morre Emil Cioran, o arauto do pessimismo

DA REDAÇÃO; COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O filósofo romeno, autor de `Silogismos da Amargura' e `Breviário de Decomposição', estava com 84 anos
O filósofo romeno Emil Cioran morreu ontem aos 84 anos em um hospital de Paris, segundo informou sua editora francesa, a Gallimard. O filósofo sofria do mal de Alzheimer e já não escrevia há alguns anos.
Cioran vivia na França desde 1937, para onde se mudou como bolsista do Instituto Francês de Bucareste. Embora nunca tenha voltado a viver na Romênia, o filósofo nunca quis trocar sua nacionalidade.
Suas idéias, expressas quase sempre como aforismos ou reflexões breves, revelavam um profundo pessimismo sobre a existência e o destino humanos.
Emil Cioran nasceu em 8 de abril de 1911, em Rasinari, uma aldeia nas montanhas dos Cárpatos, na Romênia. Filho de um sacerdote ortodoxo, o filósofo se dizia ``obcecado pelo pior".
Formou-se em filosofia em 1932, em Bucareste. Publicou no ano seguinte seu primeiro livro, ``No Cume do Desespero". Escrita aos 22 anos, a obra é, segundo Cioran, ``uma espécie de testamento", porque o filósofo pensava em se suicidar durante suas noites de insônia.
Seguiram-se ``Livro dos Enganos" (1935) e ``Sobre Lágrimas e Santos" (1937).
Cioran se considerava um discípulo do argentino Jorge Luis Borges e dizia que o aforismo (uma máxima, uma sentença moral breve) era um ``fogo sem chama".
``Desconfiem do rancor dos solitários que dão as costas ao amor, à ambição, à solidão. Um dia se vingarão por terem renunciado a tudo isso", diz um de seus famosos aforismos.
Suas obras publicadas no Brasil, todas pela editora Rocco, são ``Breviário de Decomposição" (1949, seu primeiro livro escrito em francês), ``Silogismos da Amargura" (1952, que se tornou best seller na França em sua edição de bolso de 1987) e ``História e Utopia" (1960). ``O Livro dos Logros" está sendo traduzido e deve ser lançado no fim deste ano.
Em 1989, Cioran e o dramaturgo Eugène Ionesco, que haviam sido banidos da Romênia, foram nomeados membros de honra da União dos Escritores daquele país.
Em maio último, a editora Gallimard publicou um volume que reúne temas de suas obras relativos à ``depressão, ao fracasso, ao suicídio, à lucidez e ao nada".
Seus livros mais importantes foram escritos em francês, língua que considerava de um rigor ``inumano e infernal". Era considerado pelos críticos como o mais importante escritor de língua francesa deste século, junto a Paul Valéry.
Entre seus mais de quinze livros estão também ``O Inconveniente de Ter Nascido" (1973), ``A Tentativa de Existir" (1956), ``Exercícios de Admiração" e ``O Ocaso do Pensamento", sua última obra escrita em romeno.
Em livros como ``A Queda no Tempo" (1964), ``O Demiurgo Aziago" (1969) e ``Desgarramento" (1979), o filósofo empenha-se em demonstrar que a criação é uma ``sabotagem definitiva".
``As espécies animais teriam durado milhões de anos se o homem não tivesse acabado com elas, mas a aventura humana não pode ser indefinida. O homem já deu o melhor de si. Todos sentimos que as grandes civilizações ficaram para trás. O que não sabemos é como será o fim", escreveu Cioran.

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