São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
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Brasileiro preso na França é absolvido

O brasileiro Adicerlau Adelino Pacífico foi absolvido ontem, em Rouen (norte da França), da acusação de tráfico de drogas. Ele passou 19 meses preso e chegou a ser condenado -sem provas- a seis anos de prisão, em primeira instância, em abril deste ano.
O caso foi revelado pela Folha em abril. Pacífico, 38, e outro brasileiro, M. (que pediu para não ser identificado), 38, foram presos em novembro de 93 em Rouen. Eles eram tripulantes do cargueiro brasileiro "Intrépido", no qual a alfândega francesa encontrou 74,112 kg de cocaína.
M. confessou ter sido pago para permitir a entrada da droga no navio, em Santos, e vigiá-la até Antuérpia (Bélgica). Pacífico, porém, sempre jurou inocência.
Em abril deste ano, os dois foram condenados a seis anos de prisão. Réu confesso, M. não recorreu da pena. Pacífico recorreu e ontem reconquistou a liberdade.
Sua condenação inicial se baseara apenas em indícios frágeis -um pedaço de papel com o número 64, que seria o final do telefone de um traficante, e depoimentos confusos. Pacífico também se diz vítima de racismo -era o único negro entre os tripulantes.
"Ele foi absolvido pelo benefício da dúvida, analisou seu advogado dativo (gratuito e nomeado pelo juiz), Claude Rodriguez. Sua defesa foi decisiva na absolvição.
A Justiça francesa cometeu várias falhas no processo. Alguns depoimentos foram traduzidos pelo comandante do navio, Eden Ibrahim, que não é tradutor juramentado (habilitado pela justiça para fazer traduções).
Além disso, contrariando a lei, os depoimentos não foram traduzidos por escrito, em português, para que Pacífico os lesse. Ele nem sequer sabia o que constava no processo contra ele.
Suspeita-se na França que Eden Ibrahim tenha "entregado dois tripulantes à polícia francesa em troca da liberação do navio, que já estivera envolvido em um caso similar sob seu comando.
Ibrahim, que mora no Rio, fugiu das perguntas sobre o assunto. Em duas conversas por telefone com a Folha, chegou a se fazer passar pelo próprio filho.
Pacífico e sua família criticaram a diplomacia brasileira, que teria feito pouco para ajudá-lo -não pagou advogado, por exemplo.
O Consulado em Paris alega que isso estava além de sua competência e que respondeu às cartas de Pacífico e da família.
Um funcionário do Consulado foi ontem a Rouen ajudar Pacífico no retorno ao Rio, onde mora sua mulher.

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