São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
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BC muda leilões de dólar para combater especulação

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central criou ontem um tipo de leilão de dólar que permitirá, quando necessário, desvalorizar o real sem perda excessiva de reservas cambiais (reserva do país em moeda forte) por causa da especulação do mercado.
Em dois comunicados ao mercado pela manhã, o BC instituiu um sistema de leilão em que comprará e venderá moeda estrangeira ao mesmo tempo.
Comprará dos bancos que apostarem em uma cotação mais baixa para o dólar e venderá para os que preferirem uma cotação mais alta.
Assim, os dólares usados para impedir um eventual salto indesejável das cotações não sairiam apenas das reservas do país, mas também dos bancos interessados em vender a moeda norte-americana.
A medida foi tomada enquanto crescia no mercado financeiro a expectativa de uma nova valorização oficial do dólar, que seria necessária para reverter os seguidos déficits na balança comercial, ou seja, quando as importações superam as exportações.
O Palácio do Planalto chegou a divulgar uma nota oficial sobre o câmbio, mas o documento, assinado pelo porta-voz Sérgio Amaral, não negou que possa haver uma desvalorização do real.
Consultados ontem, o BC e o Ministério da Fazenda não se pronunciaram sobre a possibilidade de alteração nos limites mínimo e máximo para as cotações do dólar, hoje de R 0,88 e R 0,93, respectivamente.
Segundo a Folha apurou, a equipe econômica avalia que as recentes medidas tomadas para conter as importações não têm dado resultado. Se os déficits comerciais continuarem, a subida do dólar poderá ser inevitável.
Ainda de acordo com a apuração, o governo gostaria de adiar ao máximo alterações no câmbio, que seriam inflacionárias. Já houve diversos aumentos de tarifas públicas neste mês e uma alta do dólar pressionaria ainda mais os preços.
O lançamento do novo leilão foi precipitado pela disparada do dólar no mercado de câmbio ontem.
Isto aconteceu em função das declarações do deputado João Mendes (PTB-RJ) -segundo ele, o presidente Fernando Henrique Cardoso teria afirmado que mudaria o câmbio-, além de previsões de que a balança comercial já registra um déficit de US 300 milhões em junho.
No mercado, a medida foi entendida como um sinal para a alta do dólar. ``Que a banda (os limites para as cotações) vai mudar no segundo semestre, até as pedras sabem", disse Luís Fernando Lopes, da MCM Consultores, que não prevê mudanças no câmbio agora.
A idéia do BC é usar o novo tipo de leilão para conter a especulação com o preço do dólar, possivelmente ainda hoje.
Por meio do novo tipo de leilão, o BC deverá estabelecer uma cotação que achar adequada para o dólar, provavelmente acima de R 0,91.
O BC vai, então, comprar de quem apostar em uma cotação menor e vender a quem oferecer um preço maior.
``Dealers"
O governo também aumentou o número de ``dealers" nos leilões de câmbio -bancos que atuam como representantes do BC no mercado. Estas instituições eram 20 e agora serão 60.
A mudança nos leilões foi arquitetada pelo diretor de Assuntos Internacionais, Gustavo Franco, e vinha sendo preparada desde março, quando o país perdeu US$ 4 bilhões das reservas no mês em função da primeira desvalorização do real desde o lançamento do plano econômico
Nota
A nota da Presidência afirma que "o presidente referiu-se à questão da taxa de juros e de câmbio no contexto das modificações que o governo cogitava fazer ao final do ano passado, antes da crise do México".

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