São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juiz recua sobre prisão de Contreras

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O juiz chileno Adolfo Bañados admitiu ontem que o estado de saúde pode adiar a prisão do general Manuel Contreras.
Contreras foi condenado a sete anos de cadeia pelo assassinato do líder socialista Orlando Letelier, em 1976. Com apoio do Exército, se recusa a ser detido.
Os médicos que tratam Contreras, 66, no hospital naval de Talcahuano (450 km ao sul de Santiago) dizem que o militar reformado não tem condições de ser preso. Eles afirmam considerar a possibilidade de operá-lo de uma hérnia.
Bañados determinou que seja feito um novo exame médico, por um junta indicada pela Justiça, para avaliar o real estado do militar.
Anteontem, Bañados havia dado a entender, com base em uma primeira avaliação médica, que Contreras tinha condição de ser levado à prisão.
Ontem, porém, recuou e ``teve a impressão" de que seria impossível conduzi-lo à cadeia.
O almirante Jorge Balaresque, chefe da região naval que engloba Talcahuano, se reuniu ontem em Concepción com o intendente (espécie de governador) local, Martin Zilic, para discutir a eventual prisão de Contreras. Concepción é a sede da Província onde está localizada Talcahuano.
O presidente Eduardo Frei voltou à ofensiva contra os militares: ``As sentenças devem ser cumpridas e deve se reafirmar o pleno respeito à vigência da Constituição e ao estado de direito".
Ao mesmo tempo, os militares recuaram. O comandante do Exército, Augusto Pinochet, tem evitado nos últimos dias manifestar-se contrariamente à eventual prisão de Contreras, como vinha fazendo.
As Forças Armadas não reagiram à prisão do brigadeiro Pedro Espinoza, detido há três dias em Punta Peuco, presídio a 35 km de Santiago. Horas antes de ser preso, o Exército desligou Espinoza da corporação.
Pinochet não participou ontem de reunião com generais chilenos no edifício-sede das Forças Armadas, localizado em frente ao Palácio de la Moneda, sede do governo chileno.
A Embaixada dos Estados Unidos no Chile também voltou a criticar os militares por impedirem a prisão de Contreras.
``Estamos satisfeitos pela metade", disse nota divulgada ontem, em referência à prisão do brigadeiro Espinoza.
O crime pelo qual Contreras e Espinoza foram condenados aconteceu em Washington, a capital dos EUA. Nele morreu, além de Letelier, Ronnie Moffit, sua assistente norte-americana.
Letelier havia ocupado o cargo de chanceler no governo de Salvador Allende, deposto em 1973 por um golpe militar liderado pelo general Pinochet.
Foi durante o governo Pinochet que Contreras e Espinoza, a serviço da polícia política do regime, ordenaram a explosão que matou Letelier.

Texto Anterior: Ação era comum nos anos 70
Próximo Texto: Artistas fazem boicote a direitistas franceses
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.