São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
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Capital floresce durante o verão nórdico

R. W. APPLE JR.
DO ``TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

Dirigindo por Estocolmo no verão do ano passado, após quase dez anos, minha mulher Betsy e eu lembramos imediatamente de uma característica própria dos suecos: uma sensibilidade estética tão desenvolvida que um microscópico lixo parece um intruso.
Todas as construções ao longo da rodovia expressa até o aeroporto são modernas, de cor branco-gelo e muito bem-conservadas.
Os espaços públicos são imaculados. Os muros são de pedra natural e os postes de luz são elegantes como um pescoço de girafa.
Você não poderá deixar de notar como todas as pessoas parecem saudáveis. É a única cidade onde as mulheres são tão lindas que até mesmo sua mulher olha pela janela do carro e diz: veja esta aí.
Entretanto é perigoso descrever os suecos ou a capital da Suécia em termos dogmáticos. Ambos mudam surpreendentemente com o passar das estações.
Numa noite de junho estávamos na praça chamada Stortoget com a temperatura em torno dos 30 graus Celsius e assim permaneceu durante os dez dias seguintes.
Achamos difícil acreditar que era o mesmo lugar onde, no meio de uma tarde sombria de dezembro, costumávamos comprar quinquilharias no mercado de Natal, cercados por pinheiros cortados.
Não parecia a região do mar Báltico. Numa animada banca, em frente à bolsa de valores, estavam vendendo sorvetes no lugar onde a cada outono os membros da academia sueca escolhem o ganhador do Nobel de Literatura.
Uma multidão de jovens bronzeados e com o peito nu estava sentada nos bancos e, mais ao longe, o dourado das casas antigas dos negociantes parecia brilhar.
Comentei isso com Margaretha af Ugglas, que na época era ministra do Exterior do governo conservador, e ela respondeu que em todas as viagens que fez jamais encontrou uma cidade que florescia no verão como Estocolmo.
``Os dias tornam-se compridos, o clima muda, as pedras da cidade perdem seu aspecto severo, a cor da água muda e as pessoas também mudam. Sentem-se mais otimistas", disse.
Como o resto do mundo, a Suécia está sendo sacudida por mudanças. O sistema social do qual os suecos tanto se orgulham mostra-se muito caro e todos comentam os cortes impostos pelo governo, por menor que sejam.

União Européia
Após séculos de neutralidade, a Suécia votou a favor da integração com a União Européia. E a queda do comunismo significa que o Báltico perdeu suas barreiras marítimas. Estocolmo, Hamburgo e São Petersburgo agora pertencem ao mesmo mundo.
Estocolmo é uma cidade moderna, repleta de prédios de mármore e vidro. Seu ritmo é mais lento que o de Londres ou Milão e até parece bucólica para uma metrópole de 1,6 milhão de moradores.
É um importante centro financeiro e é a sede da Volvo, Electrolux, Ikea e Saab. As três mais importantes partes da cidade são: Norrmalm, o principal distrito financeiro; Ostermalm, adjacente e ele, e Gamla Stan, a cidade velha, ao sul das outras duas.
As águas do lago Malar, que rodeiam as 14 ilhas em torno da cidade, suavizam a paisagem urbana. A tradição continua presente.
E no lindo palácio rococó Drottningholm, a oeste da cidade, as óperas de Mozart e de seus contemporâneos são executadas a cada verão em um teatro do século 18, com instrumentos e figurinos da época.
A cidade velha, com suas ruas estreitas e seus delicados edifícios no estilo neoclássico e barroco, é a jóia da cidade.
Visite o Palácio Real se você aprecia tapeçarias e armas. Caso contrário, observe a guarda do palácio executar suas formações rigorosas (ao meio-dia durante a semana e às 13h aos domingos).
Visite as casas antigas, como a situada na Kindstugatan, 4, com a inscrição ``Olof Hansson-Margareta Andersen, 1674". Mas o mais importante é perambular pelas ruas, evitando a congestionada Vasterlanggatan, e entrar nas centenas de lojas tentadoras.
Eis algumas sugestões: Lundgrens Fiskredskaps, onde o pescador encontra tudo nesta loja do século 19. Maja Cronsjo, roupa de cama e mesa feita a mão; Jobs, tecidos e abajures de Dalarna e a Jacksons, móveis e objetos de decoração art nouveau e art déco.
Vale a pena visitar três lojas ao longo da Kopmansgatan -Bissinger, no número 16 (especialista em Biedermeier), Tillys, no 18 (por suas jóias) e Lovisa Ulrika no 9B (por suas antiguidades).
Na parte mais moderna da cidade, perto do mercado de comida Ostermalm, não perca a Bruka Design, repleta de lindas garrafas, cestos, travesseiros, mesas, numa mistura de rústico e moderno.
Museus
Há inúmeros museus em Estocolmo e pelo menos meia dúzia deles deveria estar em qualquer itinerário. No topo da lista está o museu Vasa, que abriga um navio de guerra de madeira que naufragou na sua primeira viagem em 1628 e foi recuperado em 1961.
Perto dele está o museu aberto Skansen, na ilha de Djurgarden, que reúne fazendas, moinhos, estribeiras e igrejas de todas as partes da Suécia e oferece ao visitante uma noção precisa da vida rural.
Na ilha adjacente de Skeppsholmen fica o Museu Moderno, com as esculturas esqueléticas de Jean Tinguely e as formas arredondadas de Niki de Saint Phalle.
Não resistimos a visitar o Museu Nacional para ver seus Rembrandts espetaculares e também fazemos uma parada obrigatória no Museu Nacional de Antiguidades, que tem uma fantástica coleção de artefatos vikings.
Recomendo começar e terminar uma primeira visita em Estocolmo na água. Meu passeio favorito é um tour chamado ``Sob as Pontes", que leva o visitante pelos bairros residenciais da capital.
Uma vez explorada a cidade, vá ao leste do arquipélago em um dos vários barcos que ficam perto da Ópera ou do Teatro Dramático. As 24 mil ilhotas são visitadas no verão por milhares de embarcações.
Quando estive lá, os tremoceiros estavam em flores violetas, rosas e brancas, entre pinhos e bétulas. O inverno parecia estar a décadas de distância.

Tradução de Lise Aron

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