São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995 |
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Não basta ser pai
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE Nesta semana, uma grande empresa do ramo de cartões de crédito fechou um contrato até o ano 2000 com um piloto de kart de apenas 11 anos.Na entrevista coletiva, o pai da criança agradecia ao executivo da empresa pelo apoio. E o garoto, vestindo um blazer, respondia as perguntas dos jornalistas como autômato. Não sei se é o caso, mas o fato é que vários pais brasileiros descobriram que colocar o próprio filho em cima de um kart pode render dividendos. E conseguir um patrocinador para bancar a tal ``aposta no futuro" passa a ser o objetivo principal da família. Como me disse um amigo, o que vai acontecer se o garoto chegar aos 14 e descobrir que é mais divertido jogar bola? Será que esse pai entenderá o problema? E, pior, abdicará dos cheques do patrocinador? Espero, sinceramente, que isso não aconteça com o filho em questão, que ele seja fanático mesmo pelo cheiro de gasolina, que se dê bem, ganhe dinheiro e seja feliz. Mas, infelizmente, essa não tem sido a regra. Pois pouquíssimos seres no planeta sabem, aos 11 anos, o que querem da vida. Fittipaldi, Senna, Piquet, certamente sabiam. E, por isso, chegaram aos títulos mundiais, à fortuna, à glória. Ganhar dinheiro com o próprio filho pode ser daninho. E não é um problema exclusivo do automobilismo. Basta passar em uma agência de modelos e perceber a quantidade de pais e mães entregando seus bonitos e saudáveis rebentos para o sacrifício. E, mais tarde, com o dinheiro do cachê no bolso, alguns são capazes de reclamar de crianças feias e doentes que pedem dinheiro nas ruas -muitas delas, também, gerando dinheiro a seus pais. Voltando às pistas, temos a figura do patrocinador, vital para quem quer se arriscar em um esporte pouco acessível. Várias empresas se orgulham de apoiar esse ou aquele piloto, desde a infância, de bancar as ``apostas no futuro". Mais interessante seria, porém, investir em um programa de formação de pilotos de maior amplitude, nos moldes do que acontece na França. Lá, o programa para jovens pilotos da Elf viabiliza toda uma categoria. E aos vencedores garante suporte financeiro posterior, para que desenvolvam suas carreiras. Alain Prost, por exemplo, foi um piloto Elf. Texto Anterior: Com tanto índio, juiz esconde o apito! Próximo Texto: Notas Índice |
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