São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995
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Ashkenazy toca piano como musicólogo sutil

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Existem pianistas que são virtuosos e outros que, além disso, demonstram em sua relação com o instrumento conhecimentos profundos sobre a estética que está por detrás de cada partitura.
Vladimir Ashkenazy demonstrou anteontem, durante seu recital em São Paulo, ser um dos mestres ainda vivos que fazem parte desse segundo grupo.
As três sonatas de Beethoven e as duas peças de Prokofiev, na série de concertos A Hebraica-Banco de Boston, foram executadas por um musicólogo, seguro de si, não pela intensidade, mas pelas sutilezas dos sons que produziu.
Exemplo: as duas sonatas opus 31 de Beethoven foram compostas em 1801. A tendência de pianistas impecáveis, como Sviatoslav Richter ou Alfred Brendel, é a de conceber a de número 1 tão mergulhada no romantismo quanto a número 2 que a sucedeu.
O pianista russo naturalizado islandês, ao contrário, entende que a primeira das peças está bem mais próxima dos ``divertimentos" -clássicos como todo o final do século 18- de um Mozart ou de um Haydn.
Amarra a interpretação nesse único ângulo e obtém dela uma riqueza de detalhes fornecida com um raro comedimento.
Mesmo em Prokofiev, Ashkenazy evita pirotecnias e produz os acordes fortíssimos com uma sucessão de movimentos dos punhos (e não dos músculos dos braços), como se tocasse sem os efeitos da força da gravidade.
O resultado é delicado, inteligente. A música de Ashkenazy sai límpida em sua clareza, admirável pela redescoberta que a execução permitiu.

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