São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995
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Nova dança dos clubes ingleses chega a SP

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A última dança não vem dos clubes dos Jardins, mas da Zona Leste. O jungle, que desembarcou no ano passado nas matinês da discoteca Toco (Vila Matilde), tem hoje sua primeira festa oficial.
Motivo: o lançamento da coletânea ``Jungle Massive 3" (Warner Dance/Eldorado), na Toco.
Como a axé music, o rótulo jungle nasceu do preconceito. Quer dizer selva. Selva, como na África. Jungle brotou no sul negro de Londres, com sotaque imigrante.
O gênero prosperou sem ``hype", desprezado pela imprensa musical e clubber da Inglaterra, por ser som de gueto. Negro, negro, negro, como a soma de dancehall, hip-hop e dub.
Se impôs pela insistência. Quinze rádios piratas bombeavam jungle puro no ar londrino em 93, enquanto a mídia ainda silenciava.
Para inglês ver que jungle tem história, a versão original da faixa ``Some Justice", do Urban Shakedown (remixada no ` Jungle Massive 3"), é de 1991.
A música evoluiu do hardcore techno (``dance" eletrônica e acelerada), gradualmente substituindo os vestígios robóticos pelos ritmos do gueto, sem perder o pique frenético. Velocidade média: 150 bpm (batidas por minuto). A maioria das músicas dançantes têm cerca de 100 bpm.
Não é tanto o sotaque jamaicano dos ``toasters" (cantores de reggae) que distingue um jungle do hardcore, mas o estrondo do sub-bass (baixa frequência). Jungle significa baixos atordoantes.
É preciso recuar a 1970 para traçar as raízes do som: à invenção do ``dub"(mixagem de reggae com eco) por DJs jamaicanos. A expressão ``dub remix" é compulsória nos ``singles" de jungle.
O dub gerou ainda o letárgico trip hop de Bristol. Mais do que antagônicos, os estilos se complementam em alternativas ao techno.
Nem tanto o techno mais comercial, mas o trance (variação do estilo) e o ambient (som ambiente, cheio de efeitos) sintetizaram um ideal branco nos clubes ingleses, a ponto de extinguir quase que totalmente os ritmos e vocais negros.
Agora, retornam os batuques e até a dança ``break". Mais uma vez, a negritude salva do tédio a civilização ocidental.

Festa: Jungle Massive
Onde: Toco (r. Dona Matilde, 509, Vila Matilde, tel. 217-9657)
Quando: hoje, às 22h
Preço: R$ 6

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