São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995 |
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Câmara censura os Paralamas
LUCAS FIGUEIREDO
A pedido da Câmara dos Deputados, a banda Paralamas do Sucesso foi censurada e proibida de executar a música ``Luiz Inácio (300 Picaretas)" em show realizado na última sexta-feira, em Brasília. A canção faz uma crítica aos deputados e senadores, usando como gancho frase dita pelo presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 93, o então presidenciável do PT afirmou que havia 300 picaretas no Congresso. A íntegra da letra está reproduzida em quadro acima. Censura Quinze minutos antes de começar o show, três oficiais de Justiça do Ministério Público Federal apresentaram aos músicos da banda medida cautelar proibindo a execução da canção naquela noite. Segundo o Ministério Público, o rock dos Paralamas é ``ofensivo à honra dos membros da Casa Legislativa". A probição foi feita com base em pedido da Procuradoria-Geral da Câmara dos Deputados. Protesto ``É um absurdo, isso é censura", afirmou à Folha o autor da música e cantor da banda, Herbert Vianna. Ele disse que os oficiais de Justiça ameaçaram prender os músicos no palco caso a ordem não fosse cumprida. ``Se é censura, eu não sei. A mim compete defender a imagem dos deputados", justificou-se o procurador-geral da Câmara, deputado Bonifácio Andrada (PTB-MG), autor do requerimento. Para Bonifácio, o caso não está encerrado. ``Tomaremos novas medidas se eles continuarem querendo tocar a música", disse. Os músicos também prometem acionar a Justiça para poder executar a música livremente. ``Decidimos não tocar, mas somente naquela noite. Isso porque a nossa prisão poderia gerar tumulto e violência no público, que lotava o ginásio (do hotel Academia de Tênis)", disse Herbert Vianna. Mensagem velada Lembrando a época da censura no país, durante o regime militar (1964-1985), quando os artistas mandavam mensagens veladas ao público, Herbert substituiu no show a execução de ``Luiz Inácio (300 Picaretas)" por ``Proteção", da banda brasiliense Plebe Rude. ``Será verdade, será que não/ Nada do que eu possa falar/ E tudo isso para sua proteção/ Nada do que eu possa falar", diz o refrão da música. Depois de tocá-la sozinho no palco, Herbert -que morou dez anos em Brasília- lembrou que aquela canção exaltava a liberdade de expressão, ``que, por incrível que parece, ainda está limitada". ``A censura pedida pela Câmara acabou confirmando o que diz a letra da música", disse o músico, que só pode falar abertamente sobre o episódio com a Folha um dia após o show. Texto Anterior: Senadores querem aumento de salário Próximo Texto: Suplicy pede ao Senado que anule financiamento Índice |
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