São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995
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OUTRAS OPINIÕES

Renato Janine Ribeiro, 45, filósofo: ``O mais interessante do caderno foi revelar o preconceito de pessoas que dizem não ter preconceito. e também mostrar o descompasso entre a cor que as pessoas dizem ter e como elas são, na realidade, vistas"

Abdias Nascimento, 81, escritor e suplente do senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ): ``Não penso que o racismo no Brasil seja exatamente cordial. Aqui, o racismo colocou essa máscara de cordialidade como uma forma de tapear a opinião pública internacional, que sempre foi a de um país onde há democracia racial. Racismo não mascarado, como o da África do Sul, dão mais oportunidade a que se possa combatê-lo."

João Mellão, deputado federal (PFL-SP): ``Os dados dos censos anteriores mostram que as pessoas não se assumem pela cor, por isso a denominação moreno não surpreende muito."

Eugênio Lima, 27, vocalista do grupo de jazz-rap Unidade Bop: ``Acho que o caderno cumpre uma função social, mas uma pesquisa como essa não pode ser desvinculada de uma análise política dos resultados. Não estou preocupado em constatar o preconceito, eu vivo ele diariamente."

Sérgio Rubens Choueri e Ezequiel de Almeida, representantes legais das comunidades negras afro-africanas Kilombo Fazendinha dos Pretos (Kafundó): ``A prática do racismo e a discriminação racial ainda são vistas com ênfase em muitas regiões do Brasil. Também somos discriminados e usurpados."

José Eduardo de Andrade Vieira, ministro da Agricultura: ``O preconceito racial no Brasil é confundido com a questão educacional. A exclusão do negro do sistema educacional provoca a descriminação com a raça."

Zezé Motta, 50 anos, atriz e cantora: ``O racismo é uma discussão que tem de deixar de ser tabu e o resultado da pesquisa da Folha desmascara de uma vez por todas o mito da democracia racial, que não existe no Brasil."

Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo: ``A pesquisa é um dado científico. Até pelas minhas origens (judaicas), não aceito qualquer tipo de discriminação."

Márcio Thomaz Bastos, criminalista: ``O Weffort (ministro da Cultura) ter uma frase que é a seguinte: `Existem países mais violentos que o Brasil, mas nenhum onde a violência seja encoberta com tanta hipocrisia'. A pesquisa mostra o mito do homem cordial que existe no Brasil."

Bresser Pereira, ministro da Administração Federal e Reforma do Estado: ``Achei a conclusão (Brasileiro é `racista cordial') em princípio correta, mas acho que a Folha exagerou no processo de construção dessa conclusão".

Marco Aurélio Franco, 31, educador e estudioso da questão racial na infância: ``Gostei, mas acho que deveriam ter tratado da questão da criança negra, que sofre muito. É na escola que a criança é obrigada, pela primeira vez, a assumir uma posição em relação à sua cor. Achei muito bom o artigo de Marilene Felinto."

José Mindlin, 80, empresário: ``Concordo com a constatação da Folha de que existe uma espécie de racismo cordial no Brasil. Infelizmente persiste o preconceito contra negros, embora eu ache que esteja diminuindo. Frases como ``preto bom é preto de alma branca" são uma aberração, mas são menos citadas hoje do que no passado."

Bóris Tabacof, 65, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo: ``O dado de que 87% dos não-negros no Brasil manifestam algum tipo de preconceito no Brasil, reflete a realidade brasileira. Ainda não conseguimos nos livrar da herança da escravidão que está enraizado na população"

Nicolau Sevcenko, 40, historiador da Universidade de São Paulo: ``O caderno é superoportuno e mais do que eficaz para politizar a questão da diversidade étnica no Brasil. O que me causou estranheza foi a expressão racismo cordial, que me parece um paradoxo, já que todo ato de racismo é, por definição, abominável."

Emanuel Araújo, 54, presidente da Pinacoteca do Estado de São Paulo: ``Acho muito importante que essas coisas sejam questionadas. O que falta neste país é justamente a comunicação, falta colocar as coisas mesmo que possam abrir feridas. A hipocrisia neste país está na medida em que se dilui a cor, em que se formam guetos que não são guetos na verdade."

Nuno Ramos, 35, artista plástico: ``A pesquisa dá números a coisas óbvias, sempre se soube que há um racismo viscoso no Brasil. Nesse sentido, ela constata o óbvio mas não aponta solução para nada, é bacana mas é inútil. Ela dá um tom cientifizante mas isso não quer dizer que tenha pensado. Parece que quem idealizou a pesquisa queria pegar o cara que ia responder, já tinha uma tese pronta, já sabia a resposta. Em resumo, achei superficial."

Neuma Gonçalves da Silva, dona Neuma, 73, da escola de samba da Mangueira: ``A pesquisa mostra que o negro tem que se assumir. Nós todos somos descendentes de negros. E o negro também é racista quando não se assume e prefere casar com brancas e louras. O negro quando não assume a negritude pousa ao lado de louras, mesmo que sejam falsificadas."

Milton Gonçalves, 61, ator: ``Evidentemente que toda e qualquer pesquisa nesse sentido é válida e esclarecedora. Foi constatado que o racismo existe, agora o passo seguinte é propor soluções. O preconceito cordial é muito ruim, pois dá a sensação de que está tudo bem. No geral, o negro continua sem acesso a educação, trabalho e lazer. O que nós negros queremos é que não haja diferenças."

Ferreira Gullar, 64, escritor: ``Eu acho que há racismo no Brasil. Não tenho dúvidas quanto a isso. E está surgindo um racismo às avessas que é o racismo dos negros. Eu acho positivo a mistura das raças. Esse negócio de não se misturar, para se preservar enquanto raça, é racismo."

Eusébia Silva de Oliveira, dona Zica, 82, da escola de samba Mangueira: `` Para mim, não existe esse negócio de mulatinho, escurinho, pardo. O que existe é o negro e o branco. E no Brasil, existe muito racismo entre as duas raças, em relações de trabalho, de convivência e de vizinhança."

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