São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Parentes acusam governo de fraqueza

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Familiares de mortos e desaparecidos políticos durante o regime militar (1964-1985) criticaram ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso, acusando-o de usar a crise militar do Chile para não atender suas reivindicações.
``É uma mistura de embromação, covardia e fraqueza moral", disse o reverendo presbiteriano Jaime Wright, coordenador do projeto ``Brasil: Nunca Mais", livro sobre tortura nos governos militares.
A Folha noticiou ontem que o governo teme que a crise chilena se repita no Brasil caso atenda reivindicações dos familiares. Eles querem que o governo reconheça oficialmente as mortes e crie comissão para apurar as circunstâncias em que elas ocorreram.
Os familiares não pedem punição. A anistia de 1979 isentou de crimes tanto os que lutaram contra o regime militar como os militares que combateram a luta armada.
A crise chilena começou quando o general Manoel Contreras se recusou a cumprir pena de sete anos de prisão pela morte do chanceler Orlando Letelier, em 1976.
Os militares chilenos têm mais poder formal do que os do Brasil. O general Augusto Pinochet, líder do golpe de 1973, continua no comando do Exército. Houve 2.000 mortes -no Brasil, foram 369.
Para Wright, que dividiu a coordenação do ``Brasil: Nunca Mais" com o cardeal Paulo Evaristo Arns, a decisão de FHC mostra o ``controle que as Forças Armadas ainda exercem no país".
``Não vivemos uma democracia plena, em que o comandante das Forças Armadas tenha coragem de cumprir a vontade de um setor significativo da população", diz.
O governo FHC decidiu dar uma espécie de atestado de ``morte presumida" para legalizar a situação dos desaparecidos. Promete ainda pensão de R$ 500,00 mensais para cada família.
``Não vamos aceitar isso", diz Amélia Teles, da comissão de familiares. ``É um absurdo reduzir toda a nossa luta a um atestado de morte presumida, que a ditadura já tinha dado e nós recusamos".
Togo Meireles Neto, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, disse que, em lugar de citar a crise chilena, o governo deveria seguir o exemplo argentino.
``Na Argentina, o governo pediu desculpas pelos excessos cometidos", afirmou Togo. ``Apesar disso, a democracia não sofreu abalos".
Ana Tavares, assessora de imprensa da Presidência da República, disse que o ouvidor da República, José Gregori, falaria sobre o caso. A reportagem da Folha ligou para Gregori às 16h, 17h e 18h30. A secretária Fátima disse que ele retornaria a ligação. Até o fechamento desta edição, às 20h, não houve qualquer ligação.

Texto Anterior: União perdeu no caso Herzog
Próximo Texto: Morte precipitou abertura
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.