São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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Síndrome faz doente cheirar a peixe

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma doença batizada de ``síndrome do cheiro de peixe" foi identificada por médicos da Inglaterra e do Brasil. Suas vítimas tomam dezenas de banhos por dia, usam desodorantes toda hora, mas continuam cheirando peixe podre.
Ficam tão traumatizadas que fogem do convívio social. Abandonam estudos, rompem casamentos e muitas vezes tentam o suicídio.
``A síndrome ataca milhares de pessoas, mas a maioria dos médicos não sabe diagnosticá-la", diz Francisco Silveira, um clínico do Rio de Janeiro que já tratou 12 pacientes com a doença.
Hoje, o diagnóstico correto da doença e o uso de antibióticos curam os pacientes em 20 dias. Os sintomas da síndrome eram conhecidos, mas até dois anos atrás o tratamento era incerto e demorado.
Em 1993, o Saint Mary's Hospital, de Londres, estudou um grupo de doentes e descobriu que estavam eliminando em excesso a trimitil-lamina, uma substância produzida no intestino por bactérias que degradam alimentos.
Segundo Silveira, a substância é excretada pela urina, mas quando em excesso passa a ser eliminada pelo hálito, suor e secreções.
A causa estaria na queda da imunidade agravada pelo estresse e por alimentação desequilibrada.
A carioca Teresa L., 25, fazia duas faculdades, dava aulas particulares e ainda cantava em um coral. Três anos atrás, estressada pelo trabalho e tomando medicamentos para emagrecer, ela sofreu uma decepção com o namorado.
``Naquela mesma noite, o cheiro apareceu. Ele saía de dentro de mim, por todos os poros. Eu estava cheirando peixe podre e todos à minha volta estavam sentindo."
Aos poucos, Teresa foi se afastando das pessoas e deixando os cursos. Um dia tentou saltar da ponte Rio-Niterói, mas desmaiou ao sair do carro. Mudou-se para o Nordeste, depois foi se esconder numa cidade do Sul do país.
O tratamento reduziu os sintomas, mas Teresa tem medo que a tensão traga o cheiro de volta.
Em Maceió, a psicóloga Maria Lúcia Cerqueira Bastos já tratou uma paciente com a síndrome. Para ela, o cheiro pode revelar um desejo inconsciente de se isolar das outras pessoas.

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