São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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Famílias têm orgulho de receber cartas

DA REPORTAGEM LOCAL

Os primeiros moradores do projeto Cingapura estão completando sete meses nas novas casas. Além das vantagens óbvias de trocar um barraco de madeira por um apartamento, com mais segurança e higiene, eles descobrem confortos que não tinham na favela.
Receber cartas, por exemplo, vem emocionando muitas pessoas. A dona-de-casa Maria Julia das Neves, 54, segura entre as mãos a primeira carta que recebeu no novo endereço e a levanta para o céu, agradecendo a Deus.
``Nos 16 anos que morei na favela, só recebi uma carta e um telegrama. Agora que tenho endereço com nome de rua e número de apartamento já recebi duas", diz.
A primeira carta de dona Maria foi mandada de Parnaíba (PI) pela ``mãe do Miguel", seu genro. ``Ela é crente como eu e disse na carta que agradecia a Deus porque agora eu tenho endereço."
A favela de dona Maria, a Zaki Narchi, agora se chama Vila Zaki Narchi. Antes da urbanização, as cartas eram deixadas nos bares e, muitas vezes, desapareciam.
Os ex-favelados destacam a ``segurança" nos novos prédios. Segurança significa fim dos ratos, dos assaltos e dos incêndios.
``Antes tinha medo que os ratos carregassem as crianças à noite. Era cada ratão", diz o funcionário da Skol José Carlos Farias, 31.
A dona-de-casa Lindinalva Sales da Silva, 33, diz: ``A melhor coisa é a segurança. Antes, se explodia o botijão, pegava fogo na favela, era tudo de madeira. Tinha muito rato e o esgoto era aberto".
Ela ainda lembra que agora tem um quarto só para ela e o marido, e outro para os três filhos.
A urbanização da favela, que implica também abertura de ruas, tem facilitado a entrada da polícia, o que é elogiado pelos moradores.
``A polícia tem vindo toda a madrugada, antes tinha muita droga", diz a dona-de-casa Maria das Graças Dantas, moradora da favela Água Branca.
Apesar dos elogios gerais, uma preocupação aflige todos os ex-favelados. Ninguém recebeu ainda o carnê para o pagamento das mensalidades.
Segundo a prefeitura, serão R$ 57,00 por mês para cada apartamento, por 20 anos.
Uma pesquisa da Secretaria Municipal da Habitação constatou que 48% dos moradores de favela na cidade ganham mais de quatro salários mínimos (R$ 400,00).

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