São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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Gal Costa diz em Nova York que gravadoras desprezam a MPB

LUÍS ANTÔNIO GIRON
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A cantora baiana Gal Costa, 49, mostra hoje, no Carnegie Hall de Nova York, seu show ``Mina d'Água do meu Canto". Os ingressos para o espetáculo se esgotaram há uma semana.
É uma das maiores atrações do JVC Jazz Festival, tradicional evento de verão que anima a cidade durante dez dias.
``Já tenho um público cativo aqui", diz Gal, no lobby do flat Del Monico, na rua 59, perto do Central Park. ``Já não fico ansiosa com uma estréia. É como se eu viesse para cá fazer uma festa. Não é como no Brasil, onde temos uma história, e cada show tem um enorme significado."
O espetáculo compreende um repertório de clássicos de Caetano Veloso e Chico Buarque. Uma banda de sete músicos dá conta de arranjos camerísticos, tendendo para o orquestral, a cargo do diretor artístico do show, o violoncelista Jaques Morelenbaum.
``Mina d'Água do meu Canto" é também o nome do novo CD de Gal, que foi lançado com o show em 10 de maio no teatro Castro Alves em Salvador, percorreu o Nordeste e aterrissou em San Francisco no último sábado. Gal cantou lá para 2.000 pessoas.
``Tinha muito americano na platéia", comenta. ``Nas minhas turnês tenho notado que os estrangeiros vão aprendendo aos poucos a cantar nossa música em português. A MPB ensina os outros povos a falar português. A música brasileira vai salvar o português do esquecimento porque difunde a língua através das canções."
Apesar do sucesso de público e da carreira consolidada, Gal não viu seu disco nas lojas de San Francisco.
``Fiquei chateada porque noto que as gravadoras não se dão conta da importância da música brasileira no exterior. É o nosso grande produto de exportação, mas as gravadoras desprezam o que têm. Elas deveriam investir nos lançamentos dos CDs brasileiros no exterior, mas não o fazem."
Ficou de olhar se o novo CD está nas lojas de Nova York no passeio que faz hoje pela cidade. ``O que eu mais gosto daqui é a sensação de anonimato", sorri. ``Ando pelas ruas sem que ninguém me reconheça. Quando alguém nota é argentino."
O espetáculo vai à Europa em julho e estréia em São Paulo, no Palace, em 14 de setembro.
É a terceira vez que Gal se apresenta no teatro que lançou internacionalmente a bossa nova em 1962, com o show protagonizado por Tom Jobim e João Gilberto (modelos estéticos da cantora). O primeiro show foi há dez anos.
Mas é a primeira vez que canta na cidade sem a companhia de Tom, morto em Nova York em dezembro do último ano: ``Esta era a cidade do Tom, e para mim é muito triste não encontrá-lo mais aqui".
Em memória do mestre, Gal canta hoje três músicas de Tom. Quer também apresentar ao público a faixa-título do disco, composição de Caetano e Chico em homenagem ao maestro.
Outra modificação do show é a exigência do intervalo e da luz branca, sem cenário. ``O Carnegie Hall mantém a tradição de casa de concerto", diz Gal. ``E eu não deixo de me mostrar como uma concertista, despida dos ornamentos de um show habitual."

O jornalista LUÍS ANTÔNIO GIRON viaja aos EUA a convite da produção do JVC Festival

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