São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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`Ventos Uivantes' é tresloucada história de amor

DA REDAÇÃO

Em dois dos filmes citados por Walter George Durst como seus preferidos, existe uma aspiração comum, apesar de todas as distâncias de estilo e de época.
Tanto ``O Morro dos Ventos Uivantes" como ``Não Amarás" tratam do amor como impossibilidade e como algo socialmente interditado.
O caso mais clássico é, claro, o dos "Ventos Uivantes, adaptação do calhamaço tresloucado de Emily Bront‰ ou, mais precisamente, da trágica história do amor entre Cathy e o empregado de sua família, Heathcliff.
O amor surge da familiaridade completa (os dois são criados juntos) e é proibido em função das diferenças sociais (Heathcliff é pobre). Mas, enquanto Cathy se casa com outro homem, Heathcliff vai para a América (a história se passa na Inglaterra, como se sabe).
Inútil dizer, ele volta rico. Mas aí já é tarde. A sequência de casamentos desastrosos (o de Cathy e o de Heathcliff) já aconteceu. Daí por diante, muita água rola sob a ponte.
O filme destoa de boa parte da produção de William Wyler, cujos filmes costumavam chegar aos cinemas com mais prestígio do que têm hoje, por exemplo. Mas esse cineasta muito digno deixou exemplos de acertos fulgurantes, e um deles é ``O Morro dos Ventos Uivantes".
O filme é uma série de encontros felizes. Lá estão, no elenco, Laurence Olivier (Heathcliff), Merle Oberon (Cathy), David Niven. Os roteiristas são Ben Hecht e Charles MacArthur. A fotografia é de Gregg Toland.
Com todos esses elementos, mais uma história forte como poucas nas mãos, Wyler não se preocupou em fazer bonito -o que acontecia em alguns de seus filmes-, nem em dourar as pílulas um tanto amargas dos estúdios. Filmou como quem está em casa, com a mesma familiaridade que caracteriza o amor de Cathy e Heathcliff.
Assim, se ocorre a alguém dizer que falta um tanto de demência ao filme (como faz o dicionarista Jean Tulard), logo nos lembramos da contrapartida: não é uma história em que magia e força sejam um produto da direção. Elas já estão lá, desde o ponto de partida. Tudo que se pede é administrar o que já existe. O que Wyler faz com perfeição.
"Não Amarás, de Kieslowski, tem esse componente de loucura amorosa num estágio quase discreto, perto dos "Ventos Uivantes: o princípio de tudo é a observação furtiva de uma mulher, por um adolescente.
O fim de tudo consiste quase em uma demonstração de que o desejo é algo em princípio interditado socialmente e que satisfazê-lo equivale, mais ou menos, a tirar algo ao nada. O tempo muda, os caminhos e países são diferentes, mas o essencial nos dois filmes é a constatação da tragédia amorosa.

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