São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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Durst quer ver uma boa história

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

Embora seja um fã incondicional da tela grande, o autor de telenovelas Walter George Durst vê no vídeo a solução para a revisão de seus filmes favoritos. Crítico como ele só, mantém em seu acervo particular não mais de 40 títulos.
Durst também não perdoa Raoul Walsh. ``Antes de `Fúria Sanguinária' ele havia enchido o mundo de abacaxis", diz.
Outro fator importante, para ele, é o enredo. Durst acredita que os cineastas brasileiros só chegaram à conclusão de que poderiam fazer um bom cinema a partir de ``Roma, Cidade Aberta" (1945).
``Eram histórias humanas, que poderiam acontecer com o vizinho da gente. O Nelson Pereira dos Santos, por exemplo, tentou fazer filmes neo-realistas. Conseguiu em `Vidas Secas', ajudado pelo Graciliano Ramos."
Outra adaptação que Durst gostaria de rever -com a ajuda do vídeo- é ``A Casa Assassinada", não a do francês Georges Lautner (disponível em vídeo), mas a do diretor Paulo César Saraceni (não-lançada no mercado), retirado do livro ``A Crônica da Casa Assassinada", de Lúcio Cardoso.
A dobradinha cinema-literatura sempre interessou Durst. Basta lembrar suas adaptações para a TV de ``Gabriela", de Jorge Amado, e ``Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, entre outras.
Já na infância, procurava nas duas artes alternativas para contornar as dificuldades financeiras de sua família. ``Essas alternativas substituíam a minha vida real, difícil, por uma outra de sonhos."
Ainda menino, Durst frequentava uma sessão conhecida como ``sessão das lavadeiras", isso porque as mulheres não pagavam. E aprendeu com ela.
``O cinema ensinou minha geração a beijar. Ninguém sabia direito, e o beijo terminava na orelha. Já o cinema, mostrava aquele close bacana. Isso representou uma grande mudança nos costumes."
A literatura veio logo em seguida e não o largou mais. Aos 18 anos de idade, bancário em Campinas, levantava mais cedo apenas para ler nos jardins da cidade. ``Eu era o pior bancário do mundo."
Já na cidade grande, São Paulo, Durst começou a trabalhar no rádio, mas já era tarde. Louco por cinema, Durst criou nos anos 40 o programa ``Cinema em Casa". Os grandes estúdios cediam os roteiros de seus próximos lançamentos, e ele os encenava no rádio.
``Eu enlouquecia todo mundo. Forjava campo e contracampo afastando o microfone", lembra. A literatura vinha de tabela, já que naquela época não era de estranhar roteiros assinados por grandes escritores da época.
Dali para o Clube do Cinema, no início dos anos 50, foi um pulo. Durante suas sessões, os maiores críticos do país se dividiam.
Durst não é, porém, um fã incondicional do cinema americano. Lembra, por exemplo, que nos anos 40 e 50 as mulheres norte-americanas não tinham sexo. ``Para engravidar, bastava um beijo e um fade-out. Já no cinema italiano, o sexo fazia parte das mulheres."

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