São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 1995
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Deputado diz que há tráfico de influência em alfândega

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O cargo de inspetor da alfândega do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo), foi preenchido por critérios políticos nos últimos anos.
Deputados e senadores usavam de sua influência para liberar bagagens no aeroporto.
O líder do PL, Valdemar Costa Neto (SP), relatou ontem à Folha como foram feitas as nomeações desde o governo Fernando Collor e explicou como funcionava o tráfico de influências no aeroporto.
Os dois últimos titulares do cargo, Almir Teixeira Xavier e Aramis Graça Moraes, foram indicados pelo próprio Costa Neto. O deputado também teria pedido a exoneração de Moraes, em 94, sem ter sido atendido.
O líder do PL explicou ontem o poder político que o cargo rende: ``Você pode quebrar um monte de galho. O pessoal chega do exterior e pede para liberar a bagagem. Você ajuda a encontrar uma carga".
Costa Neto disse que recebeu inúmeros pedidos de deputados e senadores que pediam a liberação de bagagens de comitivas que chegavam do exterior.
``Às vezes, eu mandava fax pedindo a liberação. Isso é normal. Quem fala que não é porque é mentiroso", conta o deputado. Ele afirma, porém, que a corrupção existe na parte de cargas.
``O mais importante é o transporte de carga. É o que não se enxerga. Chegam seis contêineres de mercadorias importadas e tiram nota de três", diz Costa Neto.
O atraso na liberação de cargas é outro problema. O deputado foi alertado recentemente pelo presidente da associação dos despachantes que trabalham no aeroporto, Luis Augusto Ópice.
O despachante disse que, se não houvesse ``empenho", a liberação de cargas levava até 40 dias. Nesse prazo, ninguém conseguia encontrar a carga nos depósitos.
Costa Neto defende a indicação política para os cargos da Receita. ``Você imagina se tem um cara de poder com problemas na Receita. Você chega e pergunta se o cara pode te arrumar um 3.000 votos. Você livra o cara e está eleito", disse o líder do PL.
Costa Neto afirmou que há muita hipocrisia dos políticos quando o assunto é fisiologismo. ``Eu quero chegar ao poder mesmo. Se não chego pelo voto, quero chegar pelo apoio a quem está no poder".
O ex-secretário da Receita Osiris Lopes Filho disse ontem que não exonerou Aramis Moraes a pedido de Costa Neto porque a Receita estava ``em meio a uma operação padrão" na época.
``Ele (Moraes) mantinha um mínimo de autoridade. Havia queixas, mas não tínhamos dados para abrir um inquérito", afirma Osiris.
O porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, disse ontem que o presidente Fernando Henrique Cardoso nunca recebeu denúncia formal sobre essas irregularidades.

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