São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 1995
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Os amoritas, o trema e o papa

JOSUÉ MACHADO

Por que escrever "Amoritas e outros adjetivos pátrios com maiúscula inicial?, pergunta o leitor Carlos Alberto da Fonseca, de Carapicuíba, São Paulo. Ele percebeu essa tendência e alguns problemas de texto e tradução no "Atlas da História do Mundo, publicado por esta Folha, e os alinha em longa e meticulosa carta, que os responsáveis pela edição examinam.
Há tanta razão para grafar adjetivos pátrios ou não com inicial maiúscula quanta reúnem alguns picaretas deletérios para reclamar melhores salários: nenhuma. Os etnólogos, por exemplo, escrevem os Bororo, os Yanomami, como já lembramos. Em português escreve-se bororos, ianomâmis, amoritas, brasileiros, franceses, hindus, civilização olmeca, aldeia ianomâni. E budistas, cristãos, muçulmanos etc.
Quanto à falta de trema, a Folha deixou de usá-lo há anos por conta própria; não parece fazer falta e, sabemos todos, desaparecerá oficialmente se a reforma em andamento se concretizar.
Séculos, reis e papas indicados com números arábicos em vez de com romanos, como outras publicações? A Folha também não usa números romanos "exceto em transcrição de texto legal e nomes próprios como XV de Piracicaba (time de futebol). Nomes de soberanos e papas são grafados com algarismos arábicos ordinais até 10º e cardinais daí em diante. É o que recomenda seu "Novo Manual da Redação, para facilitar a leitura. Assim, qualquer desses deputados e senadores que querem aumentar merecidamente os próprios salários, enquanto aceitam engessar o do povão, podem ler e entender a Folha e o "Atlas sem o esforço extra que prejudicaria suas construtivas e desinteressadas atividades.
Que o mal de Alzheimer não os alcance já nesta semana.
A geleca ataca de novo
A palavra "aforisma, registrada nesta coluna no dia 9 do mês passado, no sentido de máxima, sentença breve e conceituosa, foi um óbvio engano do computador. Ou sabotagem. Ele está descontente com o salário mensal de 8.000 reais mais 16 mil de gratificação anual mais passagens aéreas mais apartamento funcional mais 10 mil reais por mês para a contratação de auxiliares. Miséria. Quer mais e faz essas coisas. Resultado: o leitor Joselito Alves Batista, de São Paulo, surpreendeu-se com a palavra aforisma, claro.
a palavra para conceituar máxima é "aforismo, com "o final, como quase todos sabemos. Do grego "aphorism•s, definição, conceito, sentença.
Aforisma existe, sim, embora o Aurélio não a registre, mas significa tumor causado por dilatação ou ruptura de artéria. Também provém do grego, "aphorisma, coisa separada. Nada que ver com a bancada do Congresso chamada aleivosamente de "geleca (geléia com meleca) por pessoas desrespeitosas. Dizem eles que essa é a bancada que vota conscientemente para quem dá mais, move-se mole-mole de lá para cá e exala odor desagradável. Será possível?
Relações delicadas
Um simpático repórter de rádio disse num dia desses que o trânsito estava ruim "entre os quilômetros 45 a 60 da rodovia dos Imigrantes. Por que "entre uma coisa "a outra?
Muitos deles, todos os dias, distraídos, relacionam coisas dessa forma: entre uma coisa a outra. Tem tanto sentido e graça quanto falar e escrever "Vamos de São Paulo e Santos em uma hora em vez de "Vamos de São Paulo a Santos....
Seria bom lembrarem-se todos, repórteres ou não, de que tais relações, e outras, mais agradáveis, ocorrem "entre uma coisa "e outra. Sempre. Entre 10 e 15 anos, entre o quilômetro 20 e o 30, entre 7 e 9 horas, entre mim e ti e assim por diante. O conúbio de "entre com "e só terminará quanto o pefelê 2.000 não mais frequentar o poder político nesta amável terra brasileira. Isso se dará entre os anos 3010 e 3978 d.C.

Poste escrito: A palavra francesa "personnage saiu publicada com um só e esquálido "n na coluna de 26 de junho. Ah, os computadores...

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