São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 1995
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ONU faz pela 1ª vez ataque contra sérvios da Bósnia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As forças da ONU em Sarajevo, capital da Bósnia, atacaram posições dos sérvios bósnios em volta da cidade pela primeira vez desde que foram enviadas para tentar proteger civis da guerra na ex-república iugoslava, em 1992.
O ataque, que ocorreu no começo da manhã, visou neutralizar os ataques dos sérvios bósnios contra posições da ONU perto do monte Igman, no sul de Sarajevo.
Quatro horas mais tarde, veio a represália sérvia. Um tiro de morteiro atingiu o jardim de um dos quartéis da ONU no centro de Sarajevo, ferindo dois soldados franceses e um funcionário do corpo consular norte-americano.
"A situação está ficando pior a cada dia", afirmou o mediador europeu para o conflito na ex-Iugoslávia, o sueco Carl Bildt.
As forças de paz da ONU chegaram há três anos na região onde ficava a Iugoslávia para tentar proteger as populações civis da guerra civil na Bósnia e Croácia.
Em 1991, os croatas e declararam independência da Federação Iugoslava, sendo seguidos pelo governo muçulmano da Bósnia no ano seguinte.
Nos dois países, a população de etnia sérvia recusou a separação. A Sérvia, maior república entre as seis que compunham a Iugoslávia, é acusada de armar as milícias dos sérvios bósnios e croatas.
Na Croácia, os sérvios se concentram na autoproclamada "República Sérvia da Krajina. Em maio começou uma contra-ofensiva do governo croata, que retomou vários territórios mas está agora estacionada.
Na Bósnia, as forças sérvias conquistaram 70% do território do país e são comandadas pelo psiquiatra Radovan Karadzic.
O mandato das forças da ONU permite que ela solicite bombardeios da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em caso de violação das chamadas "áreas protegidas". Desde anteontem, sérvios bósnios retomaram ataques pesados contra Sarajevo. No sábado, morreram 12 pessoas.
Entre a madrugada e a manhã de domingo, 13 civis foram mortos por tiros de morteiros ou pela ação de franco-atiradores. As ações deixaram mais de 130 pessoas feridas na capital bósnia.
Os sérvios, por sua vez, afirmam que sua "capital", Pale, foi atacada pelo Exército muçulmano. Duas crianças teriam morrido por tiros de artilharia.
O premiê muçulmano da Bósnia, Haris Silajdzic, foi ontem a Rabat (Marrocos) para pedir ajuda aos países islâmicos.
"Precisamos pôr fim a este genocídio transmitido pela TV todos os dias", disse. Não houve uma resposta oficial sobre o auxílio. A ONU proibiu, em 1992, a venda de armas para todos os países da ex-Iugoslávia.
Para Silajdzic, os sérvios bósnios preparam uma ofensiva maciça contra Sarajevo. O ataque faria parte da "ofensiva geral convocada pelo líder Radovan Karadzic na semana passada.
Karadzic considera que a guerra tem de ser resolvida rapidamente por dois motivos. Primeiro, há o risco de os combates se prolongarem indeterminadamente. Segundo, as forças sérvias bósnias temem que o Exército muçulmano consiga reforços no exterior.
Há duas semanas, o governo bósnio lançou uma ofensiva simultânea em diversas posições sérvias -usando até canhões roubados de depósitos das Nações Unidas.
Ontem, a TV estatal bósnia mostrou imagens de estradas ao sul de Sarajevo que foram tomadas em combates ontem.

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