São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 1995
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Progresso da economia mundial depende da estabilidade nos EUA

PAUL SAMUELSON

A recuperação norte-americana da recessão de 1990-91 está começando a dar sinais de velhice.
Como a recuperação global da Europa e do mundo em desenvolvimento foi movida pelo arranque precoce da locomotiva norte-americana, os não-americanos estão começando a se preocupar com as perspectivas dos EUA para o segundo semestre de 1995.
Consideremos o caso do Japão. O país ainda enfrenta problemas decorrentes do boom ilusório de especulação imobiliária e ações, ocorrido nos anos 80.
E a brutal valorização do iene está dizimando as oportunidades de trabalho dos japoneses mais jovens. Na verdade, ainda não se pode afirmar que o Japão tenha vivido qualquer recuperação real de sua estagnação na produção e da quase falência de suas instituições financeiras.
Se o progresso do Japão foi tão fraco quando a demanda mundial por suas importações era tão forte, pode-se imaginar quão difícil será para o país retomar sua expansão, num momento em que a atividade mundial está quase começando a declinar.
A Espanha é outro caso em pauta. Enquanto a Alemanha e seus vizinhos na União Européia finalmente conseguiram fazer seus índices de desemprego cair para níveis de um algarismo, a porcentagem de desempregados na Espanha ainda ronda os 20%.
O que acontecerá com as exportações e os empregos espanhóis quando seus vizinhos europeus mais fortes começarem, eles próprios, a perder ímpeto? Nem é preciso responder.
A lista continua. Na Escandinávia, o governo trabalhista sueco luta com a necessidade de reduzir seu Estado inchado de bem-estar social.
Um longo período de prosperidade na União Européia garantiria à Suécia o tempo que ela precisa para enfrentar reformas cruciais de longo prazo. Uma estagnação européia e mundial privaria a Suécia desse tempo necessário.
O México é ainda outro caso. Quando o Canadá viver uma desaceleração, resultante da queda dos índices de crescimento dos EUA, não será uma grande tragédia para uma sociedade tão rica.
Mas o México acaba de passar por uma crise internacional dilacerante. Sobreviveu a ela, com ajuda dos EUA, e começam a surgir esperanças de estabilização.
Mas, na atual condição mexicana de fragilidade, mesmo uma simples pausa na prosperidade mundial poderia afetar o país gravemente.
Não são apenas os países que já vivem problemas que têm seu bem-estar vinculado à continuidade da prosperidade americana.
Consideremos o caso de países relativamente bem-sucedidos -Alemanha, Reino Unido ou Coréia do Sul. Hoje estão crescendo bastante bem. Mas será que esse feliz estado de coisas vai sofrer se um mercado do tamanho do norte-americano começar a ratear? A resposta realista é "sim".
Não quero ser alarmista. Afinal, parte do sensato plano de 1994 era que o Federal Reserve (o banco central dos EUA, ou Fed) elevasse as taxas de juros americanas repetidas vezes, para criar uma aterrissagem macia e afastar a inflação.
Reduzindo nosso índice de crescimento pela metade, de 5% ao ano para 2,5%, o Fed esperava fazer com que nossa recuperação fosse sustentável por muito tempo. Alguns setores vêem a desaceleração americana como saudável.
Mas a economia nunca é uma ciência exata. Nunca se pode assegurar que um banco central consiga uma "afinação exata".
Wall Street acha que chegou a hora de facilitar o crédito. O que Wall Street sabe? Os especuladores em títulos e ações costumam ser animais impacientes e volúveis.
Minha conclusão final é: nos Estados Unidos e no exterior há interesse numa economia norte-americana estável. Se todos abrirem mão de seus interesses partidários, as perspectivas econômicas para 96 são favoráveis.

Tradução de Clara Allain

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