São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 1995
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Dois morrem de fome em um encrave muçulmano

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas revelou ontem em Genebra (Suíça) os primeiros casos de morte por fome em encraves muçulmanos cercados pelas forças sérvias na Bósnia.
Os casos ocorreram em Bihac, no noroeste bósnio. Uma criança de três anos morreu de inanição com 3 quilos -quando o normal para a idade é cerca de 15 quilos.
A outra vítima foi um idoso, encontrado morto em sua casa. Ao seu lado, uma carta-testamento dizia que ele não iria pedir comida na rua. "Vivi demais para chegar a isso", escreveu.
Há seis áreas habitadas por muçulmanos consideradas "áreas protegidas" pelas forças de paz da ONU na região.
Teoricamente, as Nações Unidas teriam que impedir que seus habitantes fossem atacados ou passassem fome.
Mas o cerco dos sérvios da Bósnia impede a chegada de comboios com alimentos e remédios.
Os aviões pararam de trazer as provisões em maio, quando o helicóptero em que viajava o ministro das Relações Exteriores da Bósnia, Irfan Ljubijanic, foi derrubado por um míssil sérvio.
Em Bihac, o déficit de alimentos é de cerca de 2.000 toneladas por mês, segundo cálculos do Alto Comissariado para Refugiados. Há 164 mil habitantes na região.
A ONU consegue, mensalmente, levar apenas 10% dos alimentos necessários. Os sérvios da região croata da Krajina, que fazem fronteira com a região de Bihac, ajudam os sérvios bósnios que cercam o local a impedir a chegada de comboios regularmente.
Desde 5 de abril, apenas cinco comboios passaram. Os outros foram mandados de volta ou saqueados. Os mercados de Bihac até têm comida, mas a preço inacessíveis aos moradores. Um saco de farinha, com 50 quilos, custa o equivalente a R$ 300,00.
"Todos os que conseguem algum dinheiro compram. Mas isso é difícil e depende de ajuda de parentes que foram para o exterior, geralmente para a Hungria e a Alemanha", afirmou uma vendedora no centro de Gorazde, uma das "áreas protegidas" declaradas pela ONU.

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