São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 1995
Próximo Texto | Índice

Ritmo latino

A confiança dos investidores internacionais nos países da América Latina tem passado, desde a crise mexicana de dezembro, por ciclos que parecem ainda longe de encontrar o equilíbrio.
Os primeiros três meses depois do colapso do peso mexicano foram os piores: as Bolsas naufragaram, as políticas econômicas assumiram um papel defensivo e o pessimismo predominou.
No caso da economia brasileira, essa primeira fase teve como ponto culminante a desastrada tentativa de correção cambial no início de março. Mas, ao longo de abril e, especialmente em maio, quando confirmou-se a reeleição do presidente Carlos Menem na Argentina, os mercados foram aos poucos superando o pessimismo e até o Brasil se beneficiou da nova onda, especialmente porque aqui avançava a reforma da Constituição. A mudança teve ainda como estímulo a redução dos juros nos EUA.
Entre maio e junho, entretanto, os humores mais uma vez foram revertidos. No Brasil, as expectativas de mudança cambial ganharam momento. Na Argentina, o maior desaquecimento afetou a arrecadação de impostos, colocando o Plano Cavallo diante de um impasse.
A conversibilidade impõe que para cada peso exista um dólar em reservas. Déficits públicos não podem ser financiados com emissão de pesos, apenas com mais dólares. A crise fiscal na Argentina torna-se portanto, imediatamente, uma crise financeira externa.
O presidente Menem, entretanto, reafirmou na entrevista à Folha seu compromisso com a conversibilidade. Renegou quaisquer tentações de retorno ao populismo. Dobrou sua aposta no modelo vigente, atitude que repercutiu fortemente nos mercados internacionais.
Resta saber se a aposta conta com cacife suficiente, até mesmo no Brasil, onde o governo também descarta correções mais agressivas do modelo de âncora cambial.
A estabilidade do modelo argentino, de resto como a do mexicano e a do brasileiro, em graus variados, depende crucialmente de financiamento externo.
Se ele não vier a tempo ou em volume suficiente, as apostas mais duras e ousadas poderão revelar-se nada mais que um blefe. O ambiente lembra um velho cassino animado por ritmos latinos.

Próximo Texto: Diagnóstico sem prognóstico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.