São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 1995
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Obscurantismo

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - O Congresso tenta reduzir as fronteiras das liberdades públicas, empurrando-as novamente para os limites que existiam durante o regime militar.
A mesma onda obscurantista quer a proibição das pesquisas eleitorais e de sua interpretação, quer a censura da música dos Paralamas que critica congressistas e quer criar restrições à programação das TVs.
Todas ferem a liberdade de imprensa e o direito à informação. São iniciativas de uma classe política enfraquecida por seus próprios desmandos que acredita que pode restaurar a honra e a imagem com a ressurreição da censura.
Em relação à tentativa de se proibir pesquisas às vésperas das eleições, vale lembrar duas citações reproduzidas no recém-lançado ``Dicionário do Voto", de Walter Costa Porto (Editora Giordano).
A primeira é de Edgar Faure, presidente da Assembléia Nacional francesa em 1977, quando foi aprovada lei que proíbe na França as pesquisas na semana que antecede a eleição.
``É contrária à liberdade de informação e isto faz pensar que na França se tomou o caminho da repressão. Na verdade, as sondagens se transmitirão por baixo do pano, as agências e jornais estrangeiros as publicarão."
Não deu outra e é o que vai acontecer no Brasil. Os políticos que querem proibir a divulgação farão as suas pesquisas e as usarão. O resto da sociedade encontrará formas de conhecer os resultados dos institutos sérios, como acontece na França e já aconteceu no Brasil.
A outra manifestação é do ex-ministro britânico James Callaghan, quando a Câmara dos Comuns discutia, em 68, lei semelhante.
``Eu não sei se se pode provar que as sondagens influenciam os eleitores. De toda maneira, restringir sua publicação implicaria que não se possa ter confiança no povo para que use de seu direito de voto. E eu me perguntaria se o Parlamento tem mesmo o direito de determinar o que é bom que os leitores leiam para ajudá-los a decidir quanto ao voto."
Bons argumentos para os nossos censores de plantão.

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