São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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FHC diz ter 'pena' de líderes da esquerda

ANTONIO CARLOS SEIDL
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem em Caracas que os líderes da esquerda brasileira são ``neoconservadores", porque defendem ``bandeiras políticas sem futuro".
Ele fez essa declaração durante entrevista no Palácio Miraflores, sede do governo venezuelano, depois da assinatura da ``Declaração de Caracas", que define uma nova fase de cooperação econômica entre o Brasil e a Venezuela.
Ministros dos dois governos participaram da solenidade. Na saída do palácio, FHC foi cumprimentado por venezuelanos.
Trocando farpas com os opositores das reformas constitucionais no Brasil, FHC disse ver ``com pena" lideranças que eram progressistas usando palavras de ordem neoconservadoras.
Para FHC, essas lideranças ``não perceberam as mudanças que ocorreram no mundo".
O presidente, sem citar nomes, disse que os políticos que se opõem à reforma administrativa do Estado, às privatizações e à abertura econômica são ``retrógrados".
FHC citou autores esquerdistas (o inglês Eric Hobsbawm e o italiano Norberto Bobbio, que, segundo ele, ``mudaram com a evolução do mundo") para definir a nova esquerda.
Slogans vazios
``O mundo novo tem que ser positivo e não fechado, por isso um país não pode se isolar na autarquia e na defesa de pequenos interesses corporativos", disse.
Ele citou como exemplo desse ``mundo novo" o acordo, anunciado ontem, entre a Petrobrás e a Petróleos de Venezuela para a formação de uma empresa conjunta, a Petroamérica.
O acordo, o principal resultado da cúpula Brasil-Venezuela, permitirá que as duas empresas atuem juntas em todos os segmentos no mercado externo de petróleo.
Procurando tirar o rótulo de ``neoliberal" de seu governo, FHC disse que a reforma administrativa proposta pelo governo faz ``parte essencial de qualquer pensamento social-democrático".
``É óbvio que a estrutura do Estado que dispomos no Brasil não corresponde à dinâmica das sociedades contemporâneas. Ou se faz a reforma do Estado ou não existe possibilidade de políticas sociais".
Para FHC, os governos modernos têm que cuidar não só do crescimento econômico, mas também da justiça social. ``A doutrina social-democrata tem uma vocação firme neste sentido", disse.
O presidente disse que o próximo passo de seu governo é assegurar a distribuição da renda, iniciada com o aumento da renda disponível que resultou da redução da inflação de 50% para 2% por mês pelo Plano Real.
Para tanto, afirmou, é preciso manter a estabilização da moeda, manter a taxa de crescimento e reformar o Estado para que o governo possa assegurar serviços sociais essenciais.
Ele voltou a pedir empenho ao PSDB na defesa das reformas.

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