São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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PT defendia livre negociação na década de 80

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os petistas, que hoje defendem o gatilho salarial garantido por lei, eram favoráveis à livre negociação no início da década de 80.
O senador Roberto Freire (PPS-PE), ex-PCB (Partido Comunista Brasileiro), afirmou ontem que a defesa da livre negociação foi uma das causas da divisão entre petistas e comunistas no período. Essa e outras divergências acabaram resultando na criação de duas centrais sindicais.
Conclat
Durante a primeira Conclat (Conferência das Classes Trabalhadoras), que visava à formação de uma central de trabalhadores, Freire disse que ``o PT defendia a desindexação da economia e a livre negociação, e o PCB avaliava que inflação alta, sem indexação, acarretaria maiores perdas salariais para os trabalhadores".
Segundo Freire, essa foi uma das razões para a formação de duas centrais, a CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada ao PT, e a CGT (Central Geral dos Trabalhadores), à qual aderiram os comunistas de então.
Hoje, Freire defende a livre negociação proposta pelo governo e pensa em ampliá-la, e o PT quer a criação de um gatilho para garantir um reajuste dos salários cada vez que a inflação ultrapassar 6%.

Desindexação
Para o deputado federal José Genoino (PT-SP), o partido defende o gatilho porque ``a desindexação proposta pelo governo não é para valer".
Segundo Genoino, o capital financeiro está indexado pelos juros; os convênios, pela TR; e as mensalidades escolares e o aluguel, por um indexador anual, ainda não definido pelo governo.
``Defender o gatilho é apostar na inflação", rebateu ontem Freire. O senador afirmou que vai apresentar duas emendas à medida provisória editada pelo governo.
Ele quer retirar do texto o dispositivo que proíbe ganhos de produtividade que não sejam comprovados pela empresa.
Freire defendeu ainda a retirada do inciso que determina o desconto na data-base de aumentos salariais concedidos durante o ano.
``Livre negociação parte do pressuposto que tudo pode ser negociado, não pode ter limites", disse o senador.
Sobre as atuais posições do PT, Genoino afirma: ``A situação é diversa daquela ocorrida durante a Conclat", afirmou.
``Só o salário está desindexado, o capital está protegido. Se o governo der aos salários o mesmo tratamento que está dando aos impostos, podemos até desistir do gatilho", afirma Genoino.

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