São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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`A Fraternidade É Vermelha' é o melhor da trilogia de Kieslowski

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

O filme ``A Fraternidade É Vermelha" encerra a trilogia do diretor polonês Krzysztof Kieslowski sobre as cores da bandeira francesa (os dois anteriores são ``A Liberdade É Azul" e ``A Igualdade É Branca"). É neste encerramento que o diretor consegue seu melhor resultado.
Em ``Azul", Kieslowski apresenta a liberdade como o fruto das perdas e, embora o filme se perca um pouco em afetações de estilo, ganha muito com a interpretação de Juliette Binoche.
Em ``Branca", ao contrário, a protagonista Julie Delpy deixa a desejar, e o filme se segura na interpretação do polonês Zbigniev Zamachowski e no tema da exclusão, quase uma especialidade de Kieslowski.
Neste último filme, o que está em questão é a fraternidade, talvez o mais palpável dos três valores pregados pela Revolução Francesa. A compaixão, a vontade de compartilhar a vida e as dores do outro, ainda que em desuso, parece ter contornos mais definidos que a liberdade ou a igualdade.
Nos outros dois filmes da trilogia fica-se com a sensação de que o diretor se aproxima do tema, mas não chega a dizer a que veio. Ainda que os filmes tenham poesia e beleza suficientes para se destacarem muito da média do que se vê por aí.
Com o encontro da jovem modelo (Irène Jacob) e o juiz aposentado (Jean-Louis Trintignant), em ``Vermelha", Kieslowski dá à fraternidade uma cara inusitada e de consistência implacável.
Ao juiz incomodava ter o poder de decidir o destino dos outros -mandar ou não um inocente ou um culpado para a prisão. Depois de aposentado, ele vai, por vontade própria e em nome de seu passado, interferir em outros destinos.
Espionando os vizinhos, o juiz se sente enfim o detentor da verdade humana. Como se saber as intimidades mais sórdidas dos que vê pela janela lhe permitisse entender e julgar os homens.
Num primeiro momento, a vida e o ser humano são completamente desprezíveis para o juiz. Depois que encontra a modelo tão solitária quanto ele, vai pensar o contrário.
Ela atropela a cachorra do juiz e por isso os dois se conhecem. As pessoas carentes, incapazes de se relacionar com os outros, em geral não economizam amor e compaixão para os cachorros.
``A Fraternidade É Vermelha" se passa na Suíça, lugar onde não falta nada, exceto calor humano. A modelo se relaciona com a mãe e com o namorado pelo telefone. Cada vez que ele toca, ela vive mais um pouco.

Vídeo: A Fraternidade É Vermelha
Direção: Krzysztof Kieslowski
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Irène Jacob, Frederique Feder
Lançamento: Look Filmes (tel. 011/536-0677)

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