São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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Weber e o presidente

Max Weber, um velho conhecido do presidente Fernando Henrique Cardoso, definiu o partido político como ``uma associação... que visa a um fim deliberado, seja ele `objetivo' como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja `pessoal', isto é, destinado a obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todas essas metas conjuntamente".
Um partido tem necessariamente um caráter associativo, ou seja, visa a um determinado fim, o que requer de seus membros uma unidade de ação. Nesse sentido, FHC tem razão ao reclamar dos parlamentares peessedebistas que vêm votando contra as propostas do governo.
De outro lado, seria injusto condenar de chofre os parlamentares ``rebeldes" do PSDB. Eles justificam seus votos com base no programa do partido aprovado em 1993. Nele, defendem-se os monopólios do petróleo e das telecomunicações.
É óbvio que partidos podem e têm de evoluir conforme as mudanças por que passa o mundo. A falta de consistência ideológica das agremiações brasileiras porém permite que se chegue a situações quase surreais: o presidente da República foi eleito com base numa campanha que diz o contrário do programa de seu partido.
Parece evidente que o descaso do PSDB para com a atualização de sua doutrina contribui para minar o caráter associativo do partido, ou seja, sua própria razão de existir. Enquanto as agremiações nacionais não dedicarem o devido cuidado à definição de seus fins, o mercado persa que hoje caracteriza a política brasileira tende a permanecer.
Não há razão para duvidar de que o presidente persiga os fins ``objetivos" da ação política, embora os fins ``pessoais" pareçam não lhe desagradar de todo. Diante dos imperativos da Realpolitik (leia-se a participação de siglas pouco ideológicas no governo), FHC ao que tudo indica optou pelo meio-termo.
É compreensível e realista. Só o que não é compreensível é que o presidente que leu Weber e pouco ou nada fez para atualizar o programa de seu partido venha criticar seus colegas ``ideológicos" e também o leilão de votos por cargos a que ele mesmo sucumbiu. Fins podem justificar os meios, mas apenas até um certo ponto.

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