São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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O necessário e o indesejável

Já não há dúvida quanto à inversão na tendência de crescimento. A economia está se desacelerando.
As férias coletivas na indústria automobilística são um sintoma inequívoco da velocidade dessa mudança. Trata-se de um setor que vinha batendo recordes de vendas e que chegou a trabalhar em regime de três turnos. Ainda que a ameaça de demissões por parte da Ford deva ser vista com cautela, visto que está associada ao pedido de certas concessões ao governo, não há como ignorar a rápida alteração do ambiente econômico.
Tanto a expansão como a recessão têm mecanismos autônomos de propagação que, uma vez desencadeados, demoram a ser revertidos. Desde Keynes, uma das principais metas da política econômica tem sido justamente evitar esse comportamento cíclico da economia.
Segundo a Fiesp, o nível de emprego em São Paulo vem caindo há oito semanas consecutivas. Em maio, a indústria paulista fechou 9.976 postos de trabalho. Nas três primeiras semanas de junho foram cortados mais 7.166. Com isso, o aumento do nível de ocupação, face ao início do ano, é agora de apenas 1,01%, ou 23.231 vagas.
Esses dados demonstram a eficácia da política de desaceleração do governo, assim como deixam claro que a estabilização de uma economia como a brasileira não é uma tarefa fácil nem desprovida de sacrifícios. De fato, o ritmo de crescimento verificado até os primeiros meses deste ano era incompatível com o combate à inflação e ameaçava as conquistas que permitiram ao consumo e ao emprego crescerem tanto no primeiro momento.
O próprio governo vem agora sinalizando que o desaquecimento está chegando ao ponto desejado, ao promover alguns desapertos no crédito. Os juros, porém, seguem estratosféricos. O desafio do Executivo, assim, continua sendo o de monitorar o dia-a-dia da economia real com atenção, e evitar que uma desaceleração necessária se transforme numa indesejável recessão.

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