São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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Um Brasil sem truques

PAULO CÉSAR XIMENES ALVES FERREIRA

É impossível ignorar o grande movimento que vem se desenvolvendo desde as bases da sociedade brasileira, trazendo à discussão temas que envolvem o dia-a-dia de todos, não apenas pelos aspectos socioeconômicos, mas, também, pelo questionamento de conceitos que estiveram sempre profundamente ligados à mentalidade de todo um país.
Previdência social, privatização, monopólios, reforma tributária, conceito de empresa nacional são alguns dos assuntos que já não se restringem às esferas mais privilegiadas da população. Favoráveis ou contrários aos desdobramentos, os debates ganham as ruas, os meios de comunicação, as tribunas, os plenários das Câmaras de Vereadores, das Assembléias Legislativas e do Congresso Nacional. E o que se tem visto é que não há mais lugar para soluções meramente circunstanciais, mas para resultados que se traduzam, objetivamente, em benefícios concretos para a nação.
Dentro da ótica de um Brasil cada vez mais consciente de seus direitos, o governo tem ocupado um papel de grande importância ao promover o ajuste de várias de suas empresas à nova realidade nacional.
Podemos tomar como exemplo o próprio Banco do Brasil. Ao contrário de apenas incentivar suas atividades como um banco estatal, a ordem é tornar sua estrutura o mais ágil e competitiva possível, procurando mantê-lo útil à população, mas, ao mesmo tempo, exigindo que sua postura empresarial, bem como seus produtos e serviços, estejam no mesmo nível dos concorrentes da iniciativa privada.
Para que isso de fato começasse a acontecer, seguindo o curso das reformas em andamento, o Banco do Brasil tem buscado um caminho através da formulação de parcerias junto a empresas privadas, obtendo os primeiros resultados em áreas como previdência e capitalização.
Trata-se de aliar os conceitos de segurança, tradição e solidez, além da estrutura do maior banco do país, com agências em todo o território nacional, ao conhecimento técnico e à experiência de conglomerados privados de reconhecida e incontestável reputação e, ainda, a instituições de forte atuação social, como já ocorre nos casos do Sebrae e da Fundação Habitacional do Exército/Poupex.
Os primeiros frutos dessas associações têm proporcionado, por meio dos mecanismos da livre concorrência, a melhoria dos serviços oferecidos ao público, a geração de novos empregos, o aumento na arrecadação tributária e a concretização de uma nova realidade nas relações capital/trabalho. Além disso, espera-se poder desonerar um pouco mais o governo, de forma que possa concentrar o direcionamento de seus recursos para as áreas de maior prioridade social, em vez de precisar custear investimentos em empresas públicas.
Cabe, ainda, abrir parêntese e registrar que o Banco do Brasil tem pautado sua participação nessas parcerias buscando, principalmente, obter reservas que permitam financiar, a longo prazo, as atividades produtivas necessárias ao crescimento da economia brasileira.
É natural, porém, que a atuação do BB, nos moldes de uma empresa privada, venha gerando alguns descontentamentos, principalmente em setores pouco suscetíveis à concorrência, acostumados à antiga visão de um Estado endividado e conformista, tolerante com empresas mantidas por recursos públicos, mas sem capacidade de mostrar serviço à população.
Indiferente a esses setores, um novo país vai se delineando não pela vontade de uns ou de outros, mas pela exigência da grande maioria dos brasileiros. Aos poucos, os velhos truques e fórmulas milagrosas que, até então, só conseguiram produzir ciclos de desenvolvimento sem sustentação, vão dando lugar a um sentimento mais forte de coletividade, obrigando governo e sociedade a assumirem atitudes cada vez mais firmes e positivas, capazes de levar a nação ao exercício pleno de sua cidadania e à consolidação do bem-estar social.

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