São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Bancos têm lucro maior que a indústria

DA REPORTAGEM LOCAL

Você compra um eletrodoméstico sem olhar o balanço da empresa que o fabricou, mas não coloca o dinheiro em um banco sem saber a saúde da instituição.
A afirmação é do presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Maurício Schulman, para justificar o fato de a rentabilidade dos bancos superar a da indústria. ``É assim no mundo inteiro", completa.
Segundo pesquisa da consultoria Austin Asis, a rentabilidade (retorno sobre o patrimônio) de bancos chegou a 33,87% contra 8,8% da indústria no ano passado. Mesmo com a queda da inflação, a rentabilidade dos bancos cresceu.
O levantamento levou em consideração os balanços anuais de sete bancos e de sete empresas.
Todos os bancos listados fazem parte do grupo de instituições de negócios. Têm estrutura enxuta e giram grandes quantias.
``Essa mostra de bancos não expressa a realidade do conjunto do sistema", reclama Schulman, que completa: ``Os bancos de varejo mostram uma rentabilidade de 10% a 13%."
Nesse caso, a diferença de performance ficaria menor, mas não deixaria de existir.
Schulman considera essa diferença (de aproximadamente quatro pontos percentuais ou 25%) mais compatível com o que acontece em todo o mundo. Os bancos, argumenta o presidente da Febraban, utilizam menos as ``oportunidades fiscais" para esconder o lucro.
Já o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Carlos Eduardo Moreira Ferreira, tem outra explicação para o fato. O culpado nem seria propriamente os bancos, mas o governo.
``Pelo próprio papel desempenhado pelos bancos em função dos desajustes do setor público, que é de transferir a poupança do setor privado para financiar o déficit público. Com isso, o banco tem um demandante cativo, que é o governo", afirma.
Celso Hahne, da Abiplast (que reúne os fabricantes de plásticos), é mais enfático: ``O governo não arrumou a casa dele. Continua deficitário e pagando juros altos."
``Os bancos e os rentistas (grandes aplicadores) são os sócios do déficit público", completa Adauto Ponte, da Abifa (Associação Brasileira da Indústria de Fundição).
Indagado se a indústria também não era rentista, Ponte afirma que ``parte da indústria também lucrava com o déficit público, mas a maior porção, que necessita de capital de giro, fica em uma situação delicada".
Outro dado do levantamento da Austin Asis é relevante. Comparando o ganho operacional (receita de vendas descontado o custo para produzir o bem ou o serviço) de bancos e da indústria, a diferença se estreita bastante. No ano passado, os bancos obtiveram 12,53% e as empresas, 11,4%.
Mário Alberto Coelho, da Austin Asis, diz que é preciso ter cautela na comparação. ``O custo para a produção de uma empresa e de um banco são completamente diferentes. O custo de uma empresa normalmente é mais elevado."

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