São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Cresce violação a direitos das mulheres, diz Anistia

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

A Anistia Internacional divulgou ontem em Londres o relatório anual da entidade, que documenta violações aos direitos humanos em 151 países durante o ano de 1994.
O documento, de 353 páginas, dedica-se especialmente a alertar para o crescimento da violência contra mulheres e crianças.
Segundo o relatório, a violação deliberada dos direitos da mulher tem se tornado cada vez mais um componente central nas estratégias militares.
As mulheres, que têm maiores dificuldades de se mover por causa de suas famílias, seriam vítimas indefesas de atos de vingança, de acordo com o relatório.
Para a Anistia, o estupro de mulheres na Bósnia-Herzegóvina ou em Ruanda não é um acidente de percurso nas guerras que atingem esses países, mas um instrumento para difundir o terror entre as populações civis.
O relatório também afirma que 80% dos 20 milhões de refugiados hoje no mundo são mulheres e crianças. A entidade também acusa diversos governos pela violação dos direitos das mulheres.
Cita o exemplo de Aung San Suu Kyi, Prêmio Nobel da Paz de 1991, há cinco anos presa em Myanma, no sudeste da Ásia, por fazer oposição ao governo.
Finalmente, o documento afirma que a discriminação contra a mulher é algo ainda muito presente no mundo.
Segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), mais de 1 milhão de bebês morrem ao ano por serem do sexo feminino.
No relatório, a Anistia faz um apelo para que os governos reconheçam o trabalho das organizações de defesa dos direitos das mulheres e participem da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, que acontece em setembro próximo, em Pequim (China).
Segundo a Anistia, a violação aos direitos humanos no mundo está mostrando uma nova face.
Guerras civis e fim de governos têm provocado assassinatos em massa, desaparecimentos e aumento da tortura. O genocídio em Ruanda seria a confirmação mais chocante da tese.
``A Anistia Internacional documentou neste relatório uma mudança no padrão das violações aos direitos humanos", afirma Pierre Sané, secretário-geral da entidade.
``Em 1994, o que nós vimos foram maciças violações acontecendo nas ruas mais do que nas celas das prisões", completa Sané.
Além dos casos citados acima, o relatório critica especificamente o desrespeito aos direitos humanos ocorridos na Tchetchênia, na Turquia e em Israel. Também são alvo de crítica as violações contra opositores do governo na Argélia, China, Paquistão e Indonésia.
Na América, o relatório destaca as violações ocorridas em Chiapas (México), na Guatemala, na Colômbia e nos EUA.
(OD)

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