São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Ciclo de estoques

O estoque de carros novos, principalmente nacionais, mas também importados, que se acumula nos pátios equivale já a 45 dias de produção. São 225 mil unidades, marca inaudita na história do setor.
Pelo menos no que se refere ao comércio exterior, a acumulação de estoques tem um efeito benéfico e, a rigor, desejado pelo governo. As importações de veículos (mas também de peças e componentes para os veículos nacionais) estiveram nos últimos meses entre as principais explicações para o déficit comercial. O acúmulo de estoques naturalmente freia novas encomendas, aliviando o mercado cambial.
Adicionalmente, informações extra-oficiais sugerem que teria ocorrido forte antecipação de encomendas e desembaraço de veículos nos portos às vésperas das cotas de importação. Assim, passado esse ``boom", o câmbio estaria livre dessa pressão nos próximos meses.
Delineia-se portanto no horizonte uma melhoria nas contas externas. E já ontem o Banco Central deu sinais de disposição para fazer a taxa de câmbio ``deslizar".
Se o real desvalorizar-se gradualmente, num ambiente de desaquecimento, o processo de redução de importações e recuperação de exportações será reforçado.
Ainda assim, o alívio não é tanto que autorize comemorações precoces. Em primeiro lugar, é preciso levar em consideração que o segundo semestre é sempre um período de exportações cadentes, por conta da entressafra agrícola, e importações crescentes, dada a gradual preparação das indústrias para o movimento de fim de ano.
Ou seja, as tênues perspectivas de reversão do déficit comercial que surgem agora são positivas. Mas são, ainda, um fenômeno de conjuntura, aquilo que os economistas denominam ``ciclo de estoques". Resta saber se o desaquecimento em curso será suficiente para evitar que, desovadas as mercadorias que agora se acumulam, haja um novo surto importador capaz de pôr a perder, amanhã ou depois, o alívio de hoje.

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