São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Brasil é `paraíso gay' da América Latina

Homoerotismo ainda é crime no Chile, Equador e Cuba

LUIZ MOTT
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil goza a fama de ser o ``paraíso gay" da América do Sul. Os turistas homossexuais que visitam nosso país -desde que não tenham sido assaltados ou vítimas de uma bala perdida!- geralmente planejam voltar.
Quando comparam o Brasil com outros países latino-americanos, dizem que o ``ambiente" é mais descontraído, os homens mais bonitos e limpos e maior a disponibilidade dos nativos para transar.
No principal guia turístico homossexual, o Spartacus International Gay Guide, aparecem 33 cidades brasileiras onde há ao menos um bar, discoteca ou pousada recomendada por um gay.
Esses locais estão em cidades como Conceição da Barra (ES), São João del Rey (MG) e nas grandes capitais.
Tal número é superior ao da Argentina -apenas oito indicações-, mas fica muito distante da frenética Austrália, que apesar de possuir apenas 17 milhões de habitantes, oferece 44 localidades com centenas de estabelecimentos destinados às minorias sexuais.
Minoria não tão desprezível estatisticamente, pois enquanto os índios brasileiros não chegam a 500 mil almas, os homossexuais devem ultrapassar em nosso país 15 milhões de indivíduos.
Brasil sinônimo de ``paraíso gay" é exagero: podemos exibir, de fato, algumas vantagens face a nossos vizinhos latino-americanos.
Por exemplo, aqui, desde que a Inquisição foi extinta em 1621, a ``sodomia" (como era chamado o homoerotismo) deixou de ser crime, o que até hoje não aconteceu no Chile, Equador, Nicarágua e Cuba, onde gays, lésbicas e travestis ainda podem ser presos.
Pesquisas revelam que, dentre todas as minorias sociais -judeus, negros, índios-, os homossexuais são os mais rejeitados pelos brasileiros, apesar de constar em 73 leis orgânicas municipais a expressa proibição de discriminar por ``orientação sexual".
Para lutar contra o preconceito, denunciar a discriminação e conquistar o direito à mesma cidadania dos demais cidadãos, funcionam grupos de gays, lésbicas e travestis, destacando-se o Grupo Gay da Bahia, o Atobá no Rio, o Dignidade em Curitiba e Um Outro Olhar em São Paulo, os quais, há quase duas décadas defendem os interesses da categoria.
Entre suas atividades culturais, os interessados podem contar com alguns roteiros e guias turísticos: Guia Gay da Bahia (caixa postal 2.552, Salvador, BA) e o Guia Brasileiro de Gays e Lésbicas (tel. 021-331-1527).

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