São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Alhambra é um mundo árabe em Granada

MARCELO REZENDE
DO ENVIADO ESPECIAL À ANDALUZIA

Pelas estradas que levam até Granada dois cenários chamam a atenção do viajante: um composto de campos de margaridas e oliveiras, que a rural Andaluzia utiliza para a fabricação de azeites. E um outro, feito de pichações contra o governo espanhol.
Depois de mais de uma década de quase unanimidade do primeiro-ministro Felipe Gonzáles, agora a democracia espanhola enfrenta uma grave crise, devido a acusações de espionagem por parte do governo (leia texto à pág. 6-11).
Enquanto os jornais e TVs se debruçam sobre o caso, analistas afirmam que o povo espanhol prefere dar as costas a tudo em nome do verão, como em Granada.
Um lugar, como toda a Andaluzia, acorrentado a um passado de perdas e despedidas. Granada foi a última cidade muçulmana a ser tomada pelos reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela, no ano de 1489.
Na Capela Real, no centro da cidade, os turistas se aglomeram para fotografar o mausoléu onde o corpo do casal está sepultado.
Foi na cidade também que Cristóvão Colombo convenceu a nobreza espanhola da necessidade de navegar para um novo mundo.
Mas a maravilha de Granada não é cristã. Reside antes na incrível arquitetura de seu passado islâmico, como nos palácios árabes da cidade de Alhambra: um complexo de prédios e fortificações iniciada por Muhammad in Iusuf in Nasr, em 1238, prosseguindo até Muhammad 5º, em 1391.
Alhambra é, então, o testemunho de uma invasão e seu resultado, ilustrado pela arte islâmica. É também uma marca da violência dos europeus que a tomaram, modificando alguns de seus traços originais e preenchendo seus espaços com símbolos da cristandade.
Mas a beleza dos contornos de Alhambra, de seus detalhes ornamentais ou da grandeza de seus pátios, parecem afirmar uma vitoria sobre o Ocidente: Alhambra é tudo o que um ocidental imagina, ou sonha, que seja o mundo árabe.
E como tudo que é do imaginário, e acaba se tornando uma atração turística, todo o complexo é circundado pelas lojas de lembranças ou pequenos bares, que vendem uma garrafa de água e um suco por US$ 2,00 e refeições -um almoço simples sem vinho ou sobremesa-, por US$ 20.
Há até um ``Parador" em seu interior (hotel pertencente ao governo que cobra US$ 23 pelo quarto duplo) para aqueles que se encantam doentiamente por suas pedras e jardins.
Em Alhambra resta então ao turista a chance de retornar à arte dos viajantes: caminhar e exercitar o olhar.

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