São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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Dr. Seraphim

Na linha da desgastada tradição brasileira que combina abuso de poder e impunidade, o Ministério das Relações Exteriores pediu isenções aduaneiras e ``cortesias de praxe" para determinados passageiros que passavam pelo Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.
A prática existiu pelo menos entre fevereiro de 94 e fevereiro de 95, conforme formulários obtidos por um procurador carioca, e privilegiava mais de 350 pessoas. Se entre elas não há ninguém do primeiro escalão do governo, sobram nomes que certamente foram arrolados nessa lista segundo um único critério: o do favoritismo pessoal, com eventual troca de favores.
Do contrário, como explicar a presença de, por exemplo, um funcionário da TV Globo, encarregado de receber -e ajudar a liberar- passageiros indicados pela emissora ou então o fato de diretores do Banco Nacional constarem da lista?
O caso lembra a vergonhosa liberação da bagagem gigantesca da seleção brasileira de futebol, da equipe técnica e de convidados, ao término da última Copa do Mundo. Nem tetracampeão, nem ninguém pode estar acima da lei e se arvorar o direito de ser dispensado de revista pessoal, de bagagem e isenção de taxas na alfândega.
Péssimos exemplos de cidadania como esse ajudam a manter o país no subdesenvolvimento. É de se esperar rigor do atual governo para extirpar de vez essa sonegação autorizada e essa impunidade seletiva com carimbo do Itamaraty.
O superintendente da Receita Federal, Seraphim Cipriano, se justificou de forma que também já virou tradicional entre autoridades públicas quando são apontadas falhas administrativas. Alegou não ter controle total do aeroporto por falta de pessoal. Mas é de estranhar o fato de ao lado de 90% dos pedidos estar escrito ``dr. Seraphim". O que, com certeza, não pode ser creditado à falta de verbas.

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