São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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PT apela a intelectuais para achar um rumo no capitalismo

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Convencida de que o PT está desnorteado diante das mudanças do capitalismo internacional, a sua direção iniciou um esforço concentrado para reciclar o discurso e, eventualmente, rever a estratégia política do partido.
A pedido de Luiz Inácio Lula da Silva, um grupo de intelectuais de esquerda reuniu-se na última segunda-feira para debater a crise do pensamento de esquerda e as alternativas políticas ao governo FHC.
O encontro foi reservado e aconteceu na antiga Faculdade de Filosofia (rua Maria Antonia, região central de São Paulo)
Não por acaso, o fio condutor do debate foi dado pela intervenção inicial do crítico literário Roberto Schwarz, intelectual amigo de FHC, embora filiado ao PT.
Voz destoante dentro do partido, Schwarz avalia que o PT perdeu o pé da situação política por não ter, entre outras coisas, dado a devida atenção às mudanças no cenário internacional da economia.
Segundo Schwarz, o mérito de FHC foi ter percebido que haveria uma brecha para o Brasil integrar-se em melhores condições à nova ordem internacional e está fazendo tudo para que o país se adeque a ela.
Sem desconsiderar o caráter excludente da modernização pretendida por FHC, Schwarz defendeu que se o seu projeto obtiver êxito, irá beneficiar não só o empresariado que sobreviver às exigências de competitividade, mas também o setor operário vinculado à parte moderna da economia, o que incluiria, por exemplo, os trabalhadores das montadoras do ABC paulista.
Estavam presentes à reunião, além de Schwarz, os críticos literários Antonio Candido e Modesto Carone, o filósofo Paulo Arantes, o economista Paulo Nogueira Batista Jr., o historiador Jacó Gorender e o secretário de Relações Internacionais do PT, o cientista político Marco Aurélio Garcia, entre outros.
À exceção de Marco Aurélio, os participantes do encontro não são intelectuais orgânicos do PT. Nenhum deles teve participação direta na campanha presidencial.
Lula quis ouvi-los porque está insatisfeito com as análises sobre o governo FHC e o cenário internacional feitas pelos intelectuais mais assíduos do partido.
Um dos desdobramentos da reunião será um seminário que o PT resolveu fazer para breve sobre os desafios que a globalização da economia colocam para um partido que é de esquerda, ainda se pretende socialista e atua num país periférico do sistema capitalista.
Haverá também uma nova reunião de intelectuais no próximo mês, que deve ter a participação do presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.

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