São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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O rei

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

- O rei da música popular! Roberto Carlos!
Começou estranho o Onze e Meia com Roberto Carlos. Jô Soares anunciou com alegria, o rei entrou com um sorriso de felicidade, mas:
- Antes de mais nada, eu quero agradecer à Rede Globo, quero agradecer pessoalmente ao Boni, o pessoal todo que permitiu que você viesse aqui dar esta entrevista.
Era Jô Soares que cumpria algum ritual mal-explicado, que prosseguiu com o rei:
- Da mesma forma, quero agradecer ao Boni, a todos que me permitiram ter o prazer de estar aqui. É uma coisa que eu queria muito, queria mesmo. Ficava olhando seu programa e pensando, ``caramba, eu tinha uma vontade de ir lá".
Um rei que precisa ter uma permissão para fazer o que quer não é um rei. Mas não importa o começo estranho, já que não vem mesmo daí a majestade de Roberto Carlos. Vem de outra parte, de outra qualidade, como em Senna, em Pelé.
Roberto Carlos abre falando da vitória no festival de San Remo e foi mesmo ``uma das maiores emoções" de sua vida. Roberto Carlos fala que não se vê como rei e você acredita que ele é humilde assim.
Como os outros dois, ele não mente. Começa a falar e, mais até do que não mentir, parece estar acima da mentira, acima da simulação. Fala e você como que quer acreditar. Afinal, está diante, mais do que de um rei, de uma entidade.
Uma entidade que já vendeu 70 milhões de discos, ``mais do que os Beatles, que venderam 63 milhões", pelos números de Jô Soares. Como Senna, como Pelé, ele tem uma qualidade, uma bênção, que cria o herói, o sobre-humano brasileiro.
Como Senna, como Pelé, ele fala de Deus com proximidade e com uma fé que parece, outra vez, verdadeira. Ou exagerada. ``Rezo o terço quase todos os dias. Quando não rezo, fico preocupado e, às vezes, rezo dois no dia seguinte".
Como Senna, como Pelé, ele é um orgulhoso exemplo de perfeccionismo profissional. ``Eu acho que a gente tem que fazer bem feito aquilo que quer fazer. É um respeito à gente, respeito ao público, respeito em todas as formas."
Nada de polêmico, nem no beijo de rosto que trocou com Jô Soares. Nada de político. Mas alguma qualidade de rei, com certeza. Qualidade com que o real nem sonha.

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