São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Bebês são brancos, saudáveis e têm família

ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A unidade da Febem no Pacaembu mantém hoje 180 bebês dividindo 11 quartos e duas salas hospitalares.
Negros? Não, a maioria das crianças é branca. Doentes? Não, 86% estão em perfeito estado de saúde. Abandonados? Nem todos -40% têm família e recebem visitas com frequência.
Um levantamento inédito feito pela Folha na Unidade Sampaio Viana com os bebês de 16 dias a 3 anos mostra que o perfil das crianças internadas foge aos estereótipos do ``menor abandonado".
Não recebem visitas 87 bebês -48,3%. Desse grupo fazem parte os 17 bebês da unidade que estão prontos para adoção. Eles foram abandonados ou destituídos de suas famílias devido à violência. O restante aguarda decisão judicial.
Ao contrário do que se pensa, os bebês estão bem alimentados, vestidos e medicados. Mas são apáticos. Vivem apertados, em berços grudados, sem espaço para brincar. Seguem uma rígida rotina com horário para comer, dormir, tomar banho e até trocar fralda.
São pegos no colo apenas uma vez por semana, quando um parente vem visitar ou quando brincam com um voluntário.
A apatia chega a tal ponto que o índice de acidentes da casa é nulo.
``Não quero que elas se arrebentem, mas elas precisam se expor, o risco faz parte da formação e é necessário aprender a lidar com ele. Ao sair daqui, têm dificuldade de se adaptar à sociedade", diz Wilson Barbalho da Fonseca Junior, 38, diretor da unidade.
Fonseca é radical: ``A melhor solução para esta casa seria implodi-la e construir tudo de novo".
Quem entra na unidade pela primeira vez não percebe que é um internato. Quase não há barulho.
Em uma festa junina realizada há duas semanas, não havia quadrilha ou brincadeiras. As crianças passaram a tarde sentadas em filas, esperando alguém oferecer os doces que estavam sobre a mesa.
Apesar de ter um grande espaço (16 alqueires), a casa do Pacaembu (zona oeste) não funciona. Abriga hoje 473 crianças de até sete anos, onde caberiam só 350. Há dois meses abrigava mais de 500.
Diariamente recebe duas ou três crianças. A média de adoção é de oito por mês. ``Nossa intenção é que os bebês sejam retirados por suas famílias, mas é difícil porque os pais são pobres", diz Fonseca.

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