São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Retrocesso na desindexação

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Anunciaram um passo à frente. E deram um passo atrás! Essa turma da Mônica (ou a equipe econômica, na descrição de José Simão) está se especializando em criar confusão.
As medidas de desindexação adotadas em 30 de junho pelo instrumento ``democrático" da medida provisória causaram desapontamento.
Desindexaram os salários. Mas ``esqueceram" os impostos indexados, a moeda indexada, os contratos de um ano indexados, o câmbio semi-indexado, as tarifas públicas indexadas...
Quem não concordar é burro!
Desde criança me acompanha a sensação de saber quando o rei está nu. Quando um rei, ou pretendente a rei, passa a chamar seus opositores de burros, pode ser que esteja revelando seu medo de ser burro.
Calma, presidente FHC. Ainda faltam três anos de mandato. E se pretendes a reeleição, cabe um pouco de moderação.
Vamos ser claros. Para um plano de estabilização dar certo é necessário apoio político (este governo o tem), competência técnica (Malan e Serra são competentes), e é necessário desindexar de forma ampla e irrestrita a economia.
O principal propósito da desindexação, que ficou perdido em meio a tanto debate interno no governo, é permitir que o controle da moeda passe a ser feito levando em conta metas nominais.
Com o estoque de moeda estabilizado, a inflação fica estabilizada.
No Brasil, querendo ser mais esperto do que toda a experiência acumulada em 300 anos de capitalismo, inventou-se uma forma de ``conviver" com inflação em alta no final dos anos 70, dando origem à ``moeda indexada".
Com o patrocínio do ex-ministro Mário Henrique Simonsen, resolveu-se permitir um mecanismo chamado ``zeragem automática" de déficits nas operações diárias de bancos e corretoras.
Hoje, após quase 15 anos com o país andando para trás, poucos são os que defendem a manutenção da moeda indexada, da ``zeragem automática" e da filosofia de que ``ao sistema financeiro tudo, mas ao Brasil nada".
Os advogados do lucro financeiro fácil argumentam que é impossível mudar as práticas habituais de rolagem da dívida pública. Assim, deve-se adiar para o dia de São Nunca a desindexação financeira.
No meio tempo, tome juros altos. Quem discordar é burro.
Todos os economistas responsáveis sabem que seria possível alcançar a inflação de um dígito nos próximos 12 meses se a desindexação fosse para valer.
Mas optou-se por um processo lento e gradual, supondo que será seguro. A economia, esta ciência sinistra como a chama Galbraith, costuma pregar peças naqueles que crêem que acharam o segredo para um processo lento e controlado.
A vez agora é do Congresso. A desindexação da economia é necessária, mas desindexar apenas contratos de assalariamento é injusto e assimétrico. Seu efeito será o de botar água na fervura da agitação sindical.

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