São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Paiva diz que salários terão ganho real

SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Paulo Paiva (Trabalho) acredita que a livre negociação dos salários vai trazer ganhos reais aos trabalhadores.
Na sua opinião, o aumento da massa salarial, no entanto, não pode resultar em aumento de preços. ``Não vejo razão para se imaginar que haverá queda do valor real dos salários e muito menos que qualquer aumento terá efeito sobre preços", afirmou.

Folha - A livre negociação funciona bem em economia aquecida e o governo quer reduzir o ritmo de crescimento da economia. Esta política salarial vai funcionar?
Paulo Paiva - Na Argentina, todos os mecanismos de indexação acabaram e os salários tiveram uma tendência de crescimento. No caso do Brasil, não há nenhum indicador que mostre tendência de aumento do desemprego, não há tendência de retenção da demanda por mão-de-obra. O que garante o aumento real de salário é a estabilidade monetária.
Folha - É possível garantir o valor real dos salários?
Paiva - Esta política salarial, de um lado, ajuda na queda da inflação, e, de outro lado, o repasse do IPC-r (Índice de Preços ao Consumidor em real) é suficiente para evitar queda real dos salários num ambiente de estabilidade monetária e queda de inflação. Não vejo razão para se imaginar que haverá queda do valor real dos salários e muito menos que qualquer aumento de salário terá efeito sobre preços.
Folha - O aumento salarial é inflacionário?
Paiva - O processo de indexação de salários com base na inflação passada -e nós já comprovamos isto das maneiras mais variadas no Brasil- de um lado inflexibiliza o ajuste de preços e de outro gera expectativas de aumento de preços. A história econômica mostra que aumento real de salarial só foi possível com aumento de produtividade. Este é o caminho que garante ganhos reais de salários em termos permanentes.
Folha - Como introduzir no Brasil a cultura de aferir concretamente a produtividade?
Paiva - A revisão salarial era baseada em dois componentes: o reajuste automático com base na inflação passada, garantido pela legislação, e aumento real com base na produtividade do trabalho. Nós estamos transitando para um ambiente de estabilidade onde vai se discutir aumento de uma maneira ampla. Precisa-se instruir, educar os agentes que vão negociar para depois tentar dar à produtividade um caráter mais objetivo.
Folha - Na história das negociações trabalhistas no Brasil, há um senso comum de que as partes nunca chegaram nestes detalhes, como por exemplo a produtividade. Como fazer isto?
Paiva - As experiências que já existem hoje, na discussão dos trabalhadores na participação dos lucros e resultados das empresas, já têm demonstrado o caminho de vários critérios específicos. Esta discussão, a priori, de que isto é difícil ou impossível de aferir, ou que se deva medir por setor, é o argumento de quem quer camuflar ou manter o uso da produtividade como subterfúgio para aumento geral. Tenho a absoluta segurança de que daqui a alguns meses nós vamos ver que as coisas são muito mais simples do que elas estão sendo pensadas.
Folha - Porque então esta resistência?
Paiva - Imagino que há uma certa aversão ao risco.

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