São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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BC estuda mudanças nos fundos DI e de commodities

ALBERTO FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo pretende profissionalizar os fundos de renda fixa, de mercado futuro e de commodities, tornando-os mais rentáveis, arriscados e, portanto, direcionados a grandes aplicadores.
A idéia é que estes fundos tenham mais liberdade para deixar de ser um refúgio contra a inflação e passar a uma opção para os investidores profissionais, interessados em lucros maiores e capazes de bancar mais riscos.
Já os pequenos investidores deverão ser direcionados progressivamente a aplicações mais tradicionais, como a poupança e, provavelmente, o chamado fundão.
As mudanças não devem acontecer antes de agosto e vão prever um prazo para que os investidores possam, se quiserem, sacar seus recursos pelas regras antigas.
Deverão acabar os limites mínimos de aplicações em títulos públicos. Hoje, são de 10% para renda fixa e mercado futuro de DI (Depósito Interbancário). Para os fundos de commodities variam em função dos montantes aplicados em outros tipos de títulos.
Esses limites funcionam como uma barreira que impede os bancos de aumentar a rentabilidade de seus fundos, em função da remuneração relativamente baixa dos títulos públicos, explica Adriana Castro, da MCM Consultores.
O investimento na dívida pública também confere segurança ao fundo, pois o governo garante na prática taxa acima da inflação.
É a maior segurança que permite ao banco popularizar o fundo, exigindo limites mínimos baixos para a aplicação.
Mas a obrigatoriedade de aplicação em títulos públicos é uma forma de indexação da economia. Foi criada como uma forma de garantir que os fundos não renderiam menos que o aumento dos preços da economia, funcionando como um mecanismo de reposição da inflação.
Um fundo que, por exemplo, aplica exclusivamente em commodities -ou seja, produtos agropecuários- ganha muito dinheiro quando os preços dessas mercadorias sobem e tem rendimento abaixo da inflação ou prejuízo quando ocorre o contrário.
Os fundos DI poderão ser os mais afetados pelas medidas, com o aumento de seu limite máximo de aplicação em mercados futuros, mais arriscados.
Com as medidas, o governo espera que o próprio mercado se ajuste para estimular os pequenos investidores a ficar em investimentos mais tradicionais, como a caderneta de poupança.

Liquidez
O Banco Central, presidido por Gustavo Loyola, deverá impor restrições aos fundos que hoje permitem saques diários, como o de commodities e o fundão. No caso do fundo de commodities, deve acabar a liquidez diária que hoje é permitida após 30 dias.
Mas o fundão deverá continuar existindo, com rendimentos menores, que ficariam próximos ou até abaixo da inflação.
A extinção total dos fundos de curto prazo deverá ser evitada pois, nesse caso, avalia o governo, os assalariados passariam a correr às compras no início de cada mês, por falta de alternativa de proteção aos salários contra a inflação.
O rendimento do fundão seria reduzido por um aperto maior nos depósitos compulsórios dessa aplicação, ou seja, nos recursos que os bancos são obrigados a recolher ao BC quando recebem depósitos.
Hoje, o BC paga aos bancos juros de mercado pelos recursos recolhidos como depósitos compulsórios sobre o fundão. Uma das alternativas seria passar a remunerar esses recursos a 80% dos juros de mercado. Isto diminuiria o interesse dos bancos em captar recursos para o fundão e as taxas cairiam.
O objetivo é fazer com que o mercado gradualmente passe a aplicar em prazos mais longos. Hoje, quase a totalidade das aplicações financeiras tem prazo máximo de 30 dias. Os bancos também serão obrigados a fornecer mais informações sobre como aplicam o dinheiro.

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